O fundamentalismo religioso e o cientificismo: Alternância de fanatismo?
Sobre lembranças, esquecimentos e o sono
Este é mais um texto envolvendo o que entendo por sentido de vida e espiritualidade e comecei a desenvolvê-lo a partir de questões como: Porque esquecer das coisas? O que esqueço e o que me lembro?
Muitas vezes lembro-me de coisas imprestáveis tais como velhos gostos musicais, jogos eletrônicos e eventos históricos fúteis de minha vida; Outras vezes lembro-me de coisas que parecem oscilar entre o descartável e o útil como conteúdos de história que estudei; alguns são construtivos, enquanto outros são muito pontuais e difíceis de se encaixar num contexto atual. Lembro também de algumas outras coisas que são mais importantes, como por exemplo, o amor e a educação que recebi em minha infância e determinados assuntos da psicologia...
Mas o que eu esqueço? Não deveria esquecer só o que é inútil, nocivo ou coisas assim? Bom... não é o que acontece. Esses dias me lembrei de pensamentos esdrúxulos que eu tinha no passado: variados entre si.
Porquê? Não tenho certeza, mas espero que seja para aprender e me afastar completamente de tais coisas podres. A palavra "podre" aqui (que tem uma carga sentimental negativa, de aversão) se refere a gostos materialistas de coisas passageiras, coisas que podem viciar e coisas que envelhecem/ morrem/ apodrecem, e também se refere a preconceitos, sentimentos inúteis como os vingativos que eu tive por muitos anos etc.
Além de lembrar de tais coisas, frequentemente esqueci vários assuntos que se referem a mim mesmo; a minha melhoria como ser humano, para desenvolver paciência, tolerância, atenção em mim e nos outros etc. São "valores" que fazem sentido para mim...
Talvez outras pessoas também passem por isso, mas só posso falar com precisão sobre mim mesmo; minha mente se parece algo muito inoperante com certa frequência: lerda e traiçoeira com os próprios objetivos. Às vezes parece chegar a um ponto de contradição que me faz perguntar se sou eu mesmo que me afasto das coisas que almejei ou se sou arrastado por outros... mas que outros?
Passo por um período bastante solitário, então por a culpa nos outros não me parece convincente; E mesmo que tivesse interferência de outros, eu não seria capaz de resistir tamanhas imbecilidades?
Tentemos ressaltar alguns exemplos: Se ouço em um bar ou mercado, um homem pronunciar falas fascistóides (pró violência, repressão e militarismo) como se conhecesse do assunto de política externa dos EUA ou de Israel... Eu deveria ficar irritado? Qual é a relevância disso? E se há alguma relevância, como por exemplo, se tal homem convencesse o grupo de pessoas que frequenta o estabelecimento? Eu deveria ficar indignado? Acho que não, mas mesmo assim, eu fiquei...
Se conheço uma pessoa com um ou mais transtornos psicológicos e essa pessoa tem um comportamento rude que seria inesperado para um leigo, mas que não é para mim (psicólogo de formação)... Porque não me submeter à rudeza de tal pessoa que não põe minha saúde em risco algum? Porque retrucar de modo quase ou tão rude quanto? Eu deveria me submeter à rudeza que, no caso, era praticamente dar as costas à pessoa e ir embora.
Se um ou mais vizinhos (todos adultos) não possuem bom senso e durante o dia ouvem música que não gosto em um volume de estremecer as janelas do meu apto... Eu posso me incomodar e até tentar reclamar (preferencialmente no diálogo), mas preciso ofendê-los mentalmente? Há grande diferença em ofender mentalmente e fisicamente? Não, a diferença é pequena, porque sei que a mentalidade não é menos importante do que ações perceptíveis pelos sentidos humanos.
Pois bem, estive falhando em todas essas questões e decepcionando a mim mesmo. O que me falta? Força de vontade? Alguma atitude? Ambas as coisas? Só sei que permanecer em tal inércia psíquica e moral para mim é bem angustiante.
Em algumas noites (não contei quantas, embora eu fiz um diário sobre meu sono e meus sonhos) eu tive experiências psíquicas bem intensas que parecem relacionadas a minha busca por sentido existencial... ao que tem valor para mim. E estas experiências as quais me refiro foram ruins, como tentarei explicar:
Numa noite dos meados de 2024 por exemplo, esforcei-me para manter-me consciente ao deitar-me... até quando conseguisse... e o resultado foi bem desagradável: Não parecia um mero sonho e sim minha essência ou eu mesmo deixando esta realidade corporal típica que percebemos sensorialmente. Tinha alguns aspectos de sonho como eu ter um "corpo" ao menos visivelmente, em aparência. Eu fui interagir com outros os quais nem me lembro porque uma coisa me chocou muito: Eu percebia meus próprios sentimentos e intenções com uma clareza que parecia mais nítida do que em vigília, e não gostei do que senti sobre mim mesmo! Não detalharei aqui por considerar um fato um tanto íntimo...
Mais ou menos na mesma época um sonho meu irrompe numa cena mais real do que minha atividade onírica dominante ou típica em maior parte de minha vida... Eu entrei em diálogo com uma colega de estudos e ela me falou de quantas vezes eu rejeitei ela... Aquilo martelou em minha cabeça como se fosse ela mesma falando comigo por algum meio telepático ou espiritual. Tal experiência trazia conteúdos que relacionavam-se com situações em que passei ao lado dela e que eu tinha dúvidas em meu estado de vigília.
Por fim, numa experiência noturna mais recente, eu sonhei que acordei em meu quarto e olhei meus arredores. Eu não gostei nada do que eu vi e percebi que havia um culpado por aquela minha visão. Aí começou uma experiência que não era simplesmente um sonho: Eu "imaginei" o culpado em minha frente e ao imaginar, eu sabia que era mais do que uma imaginação. Eu invoquei o indivíduo, que tinha uma aparência praticamente irreconhecível porque ele apareceu sentado cabisbaixo em minha frente e utilizando um boné. Golpeei a face dele que parecia se deformar conforme meu punho violentamente a atingia e eis que ele reage saltando em minha direção e me enforcando. Eu acordei sentindo o ataque dele: nos primeiros centésimos ou décimos de segundos ao despertar parecia algo mais real como se eu acabasse de ser atingido. Me pergunto se a dor e o breve formigamento não teria relação com os campos eletromagnéticos de órgãos do meu corpo como os do cérebro ou do coração... Não terei a resposta tão cedo, já que a ciência dominada pelo biologismo despreza o estudo dos "campos em." do corpo humano. Nos segundos seguintes parecia mais aquela impressão psíquica mesmo... o susto passando e a dúvida surgindo.
Mas descrevi tais fenômenos não para buscar algo fantástico nem para meramente criticar o conhecimento humano até este ano de 2025, e sim para analisar a importância de meus sentimentos e de meu sentido de vida...
Platão menciona a importância de orar antes da noite de sono, não por uma religiosidade cristã, mesmo porque o autor viveu na 'Grécia" 4 séculos antes de Jesus. O filósofo em sua obra "A República" indica que o anoitecer é um período onde podem surgir desejos ruins e recomenda a oração como algo auxiliar no combate a tais fenômenos. Certamente trata-se de orações racionais, não meramente mecânicas/ ritualísticas; a oração como exercício psíquico de desejar se afastar da mentalidade mesquinha, inconsequente, egoísta e/ ou desrespeitosa, enfim, afastar-se da mentalidade anti ética.
Mas porque à noite? Porque é quando o corpo precisa descansar... e a psiquê continua com algum nível de atividade. Independentemente se continua ativa "presa ao cérebro" ou se numa cosmovisão espiritualista como a de Platão, a psiquê se desprende do corpo, como em um estágio de "semi morte"... à noite colhemos as consequências mentais de nossas vivências durante o dia. Talvez na noite de sono somos lembrados de nossos valores, sejam individuais ou mais universais...
Não se trata de afirmar que os sonhos são reveladores para todo o ser humano, mas sim de lembrar que, como qualquer atividade psíquica, eles podem indicar ou esconder nossas conquistas, dúvidas, expectativas, sentimentos e contradições. Por trás deles, nossa psiquê, seja mente ou espírito, continua existindo, pois continuamos a ter uma identidade, um histórico e um contexto. Continuamos presentes, seja onde e como for e se continuamos presentes, as coisas que fazem sentido para nós não desparecem e reaparecem do nada; Durante o sono e por trás dos sonhos em algum nível sabemos o quanto estamos próximos ou distantes do nosso sentido existencial.
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