Este é um texto mais informal do que científico à rigor. Obviamente certas pessoas podem tratá-lo como meramente opiniático, mas me esforcei em me basear em algumas fontes científicas e principalmente em fontes filosóficas. Este esforço que fiz foi justamente para não expressar só opiniões, pois a filosofia é a área que tenta separar a opinião do conhecimento. A ciência ainda é muito especializada, portanto muito dividida em várias áreas diferentes, carecendo de uma teoria de diálogo entre as disciplinas que valoriza as áreas humanas/ filosóficas/ culturais.
Vamos às questões básicas: O que é capitalismo? Quando surgiu? De onde veio?
Existem várias explicações e teorias na academia, algumas naturalizam o capitalismo, enquanto outras criticam. Eu particularmente tento me basear pela etimologia (origem) das palavras, pela história e pela filosofia.
Capitalismo é qualquer ideologia, complexa ou rudimentar, que incita a priorização do uso e/ ou acúmulo de dinheiro pelas pessoas. Precificar o maior número de produtos e serviços possíveis, por exemplo, é capitalismo!
Ao estudar a história da humanidade, fica óbvio que houve em algum nível a necessidade de estocar alguns bens para sobrevivência em certos períodos e locais... Estocar alimentos para se prevenir contra uma época de difícil obtenção de alimento, é um exemplo aceitável (certamente isto aconteceu há milênios). Mas nem tudo foi, nem é, só necessidade nas civilizações humanas.
Discutir o quão certas coisas são necessárias ou não, pode ser assunto complexo e tentarei ser breve nestas questões, então devo limitar o assunto à "era moderna". Porquê? Por que é mais ou menos quando o mercantilismo substitui o feudalismo na Europa... Escolho a Europa não por admirar a cultura de tal região e sim, pelo estrago feito no mundo por causa da ganância de seus líderes, sejam eles líderes econômicos (burgueses) ou políticos (aristocratas em geral no início da era moderna).
Eu já vi um ou dois professores falarem que o capitalismo trouxe algum progresso para humanidade. Isto é uma distorção dos fatos: O mercantilismo como um sistema (pré) capitalista menos rentista do que outros mais atuais (chame estes mais novos de capitalismo industrial ou neoliberalismo, tanto faz) poderia até colaborar com algum progresso, mas de modo indireto, com outros fatores sendo principais causadores do progresso! Por exemplo, a filosofia mais livre da religião propagada por filósofos neo platônicos (Nicolau de Cusa, Marsílio Ficino, Giovanni Pico, entre outros...) durante a renascença, foi gradualmente tornando menos difícil desenvolver certos estudos (vide Copérnico, Kepler e Galileu).
E falando da renascença, utilizando como base as narrativas comuns das aulas de história do ensino fundamental e médio brasileiro (particularmente dos anos 1992-2000, no meu caso), o que ouvimos falar é que quando o Império Otomano dominou o estado Bizantino em 1453, seus líderes dificultaram o acesso aos produtos da Ásia para os europeus. Essa narrativa por si só tem um viés mercantilista centrado no interesse de certas elites, possivelmente a burguesia e as aristocracias da Europa. Ela não explica o desenvolver do pensamento e dos saberes ocidentais, pois subestima a história da filosofia, mas neste texto ela me serve, pois explica uma ideologia reducionista e objetificadora, que é o capitalismo.
Priorizar a utilização ou estocagem de dinheiro obviamente não é um fim em si: Quem fomenta isto tem seus objetivos particulares. As elites européias se interessaram por produtos: queriam especiarias da "Índia" e certamente tantos outros produtos típicos das terras ao leste do Império Otomano. Ao buscar rotas alternativas para desviar do "bloqueio" otomano, eles chegam a um enorme continente (América) habitado por povos desprotegidos quando comparados com seus próprios poderios bélicos. Para termos noção de como os europeus estavam longe de ser um povo diplomático e pacífico, vejamos Portugal, por exemplo: Esta foi a primeira nação do mundo a bombardear uma cidade porque os líderes de tal cidade (na "Índia") não fecharam acordo comercial com eles, preferindo negociar com árabes. Outras nações européias passaram a seguir o exemplo de Portugal em alguns anos. Isto mostra os interesses e o modo de agir dos líderes europeus.
Portanto as elites espanholas e portuguesas, que foram as primeiras nações européias a atravessarem os oceanos na modernidade, ao invadirem a América, não estavam interessadas em criar novos estados e pacientemente desenvolver um mercado tentando conviver em paz com os nativo-americanos. Elas queriam mão de obra barata, mais especificamente mão de obra gratuita, ou seja, escravizada. Além disto, alguns dos primeiros escravagistas portugueses a desembarcarem na África entre os anos de 1441 e 1446, eram consórcios privados de mercadores que raptaram habitantes islamizados da região onde hoje se encontra a Mauritânia. Pela localização em que se encontravam, possivelmente estes primeiros povos africanos escravizados por portugueses eram bérberes (uma etnia saariana não-negra) ou povos negros do "Império" Wolof (há quem considere os Jolofs uma confederação). Nesta região os escravos em geral tinham direito a algumas propriedades e trabalhavam normalmente pagando taxas aos seus superiores. Eles não eram submetidos à violência e condições precárias que os europeus os submetiam, como alguns conservadores gostam de narrar a história.
A aristocracia espanhola, por sua vez, tentou impor um sistema de "encomiendas" sobre os nativos-americanos, onde estes trabalhariam e os fidalgos espanhóis cobrariam tributos. Obviamente o sistema foi distorcido e transformado numa simples escravização cheia de casos de violência. Como os nativos-americanos estavam em sua terra natal, eles tinham eventuais alternativas de resistirem os europeus: escravizados se rebelavam e fugiam, tribos forjavam alianças entre si, contra-atacando e emboscando os invasores etc. É claro que a solução européia para isto, resumidamente, foi chacinar nações americanas e escravizar africanos, trazendo-os para América. Ou seja, as elites européias em geral, tentaram dominar através da violência os povos nativo-americanos, porque queriam acumular riquezas - não há segredo nem motivo para justificar a violência empregada contra os nativos da América e África.
Aqui começa umas distorções nas narrativas típicas das instituições de ensino do Brasil (não só no ensino médio, mas no superior também!): Fala-se em uma crescente produção que teria fomentado um aumento do consumo de certos produtos, como se fosse um evento natural (forças da natureza) ou incidental. Só que alguns destes produtos, como o açúcar da cana, começaram a ser plantados cedo pelos escravizados (1506 na "América espanhola" e 1531 no "Brasil" português). Nenhum "patrão" que não quer pagar seus trabalhadores (escravizados) e que prioriza o lucro, vai permitir uma produção baixa ou moderada. Tal tipo de gente obviamente quer produção e lucros crescentes, sem se importar com as dificuldades ou necessidades de seus trabalhadores escravizados. Portanto qualquer "excedente" de produção aconteceria cedo ou tarde - é uma conseqüência lógica dos métodos desumanizados que tinham a finalidade de crescentes ganhos materiais para os escravizadores. Explicados tais fatos, é ingênuo ou malicioso afirmar que simplesmente houve uma "necessidade" de buscar novos mercados ou uma "necessidade" de novos consumidores. Necessidade para quem? Certamente não para maioria dos trabalhadores escravizados - maioria esta que, por exemplo, por um vasto período do "Brasil colônia", era não só a maioria da mão de obra, mas a maioria da população da colônia portuguesa!
Continuando, nota-se então, que o mercantilismo da era colonial já se tratava de um sistema social e econômico capitalista. Não havia significante avanço em bem-estar das sociedades, menos ainda em infraestrutura. Outra narrativa duvidosa que ouvi é que durante o mercantilismo as aristocracias taxavam severamente... quem? Os burgueses? Os corsários? Dificilmente, pois aí entra novamente a narrativa enviesada: Se as taxações eram tão severas, como burgueses e corsários enriqueceram tanto neste período da história? Alguém poderia alegar que corsários eram mercenários que trabalhavam para aristocracia... mas isso faz deles partes do estado? Difícil crer nisto. A verdade é que a renascença é um período de transição, e sendo assim, certamente houveram brechas nas leis que permitiam um enriquecimento desregulado das burguesias. Mas este período serve apenas de esboço para o que estava por vir, por isso considero perda de tempo detalhar possíveis taxações desta época neste texto.
A Renascença termina em meados do século 17; um período de grandes inquietações e conflitos envolvendo religião e práticas místicas, além de crescentes interesses econômicos e políticos por parte de burgueses e aristocratas. Esta foi a etapa de certa forma final, entre os grandes conflitos de católicos contra protestantes com diversas ordens e seitas envolvidas em disputas. O misticismo, que possivelmente se iniciou com a abertura do judaísmo místico/ hermetismo no início da renascença, chegou a seu ápice nas elites intelectuais com o rosacrucianismo para logo a seguir, começar a declinar. Entre classes menos privilegiadas, famílias inteiras que realizavam práticas místicas foram perseguidas, condenadas e cruelmente assassinadas por serem consideradas pagãs/ hereges, no Império Germânico, na Inglaterra, Escócia, Espanha até na Escandinávia.
Mas a intensificação da ideologia capitalista certamente ocorre na transição do mercantilismo típico da renascença para o liberalismo desenvolvido no início do iluminismo. Isto ocorre de modo paralelo ou interligado com a diminuição das guerras religiosas no fim do século 17, que deu mais espaço às guerras de interesses comerciais e políticos. Por coincidência (ou não), uma das maiores crises surge nos Países Baixos, terra natal das maiores companhias privadas do mundo até então. E também nesta mesma época, é escrito o famoso tratado sobre o liberalismo na Inglaterra por John Locke. Inglaterra esta que rapidamente vira o jogo da corrida colonialista, vencendo a Espanha e Portugal sem grandes dificuldades e enfrentando a França, principalmente na América do Norte.
Embora interessante, falar desta transição do século 17 ao 18 tornaria o texto muito longo, então vamos à industrialização: Ela basicamente começa com a utilização do vapor e com os "teares mecânicos" na 2ª metade do século 18 e é aí que a Inglaterra parece se dar bem de vez na corrida colonialista/ econômica industrial. A burguesia já estava consolidada na Inglaterra, no mínimo desde as manobras de Henry VIII e seus sucessores, que arrancaram fortunas da igreja católica no século 16, beneficiando não só a igreja protestante, mas também possivelmente uma classe de burgueses. Aqui devem existir inúmeras opiniões e intrigas na academia as quais eu ignoro: Umas opiniões são muito tecnicistas outras são claramente conservadores ou economicamente liberais e defensores do capitalismo. Defender um sistema que propaga iniquidade e prejudica a maior parte da humanidade em prol de uma minoria, é defender o maior caso de charlatanismo da história humana.
O fato é que por volta de 1780-1790 começam as revoltas luditas naquela nação: Trabalhadores quebrando as máquinas e queimando livros contábeis de seus patrões. As máquinas eram novidades tecnológicas que só os endinherados podiam obter, e, justamente devido aos seus altos valores, os patrões naturalmente acostumados a vida de luxo, não queriam que estas máquinas ficassem paradas. Daí começou-se exigir jornadas de trabalho de 14h diárias dos trabalhadores, bem como a inventar leis para punir destruição de patrimônio e rebeliões. O que há de natural nisto? Que outra forma de vida na Terra mata centenas de mulheres e crianças para manter-se com quantias gigantescas de bens dos quais ele nem consegue usufruir? Para maiores detalhes bizarros desta época vejam esse vídeo com participação do sociólogo Ruy Braga: https://www.youtube.com/watch?v=9Lpnz_0Nrk4&t=2742s
A revolução industrial e sua respectiva tecnologia é fruto de supostos avanços da construção de conhecimento. Só que esta construção de conhecimento tem um pressuposto filosófico materialista! A filosofia natural que ganha proeminência após o empirismo de Locke (ele de novo...) é uma fonte de conhecimento materialista, portanto especializado, que fomenta um "progresso" basicamente material em determinados assuntos da civilização. A ética entre outras áreas importantes para o desenvolvimento humano (epistemologia, pedagogia, psicologia, sociologia etc) se desenvolveram, mas com menos proeminência e mais vagarosamente do que as tais filosofias (ciências) naturais.
A tecnologia tem sua finalidade específica de acordo com a área de trabalho e do mercado. Ela não resolve problemas de exploração do ser humano. A exploração do ser humano é feita por quem tem muito poder e é um problema moral e ético como o sociólogo Ruy Braga diz no vídeo do link citado. Quem teve mais poder durante o liberalismo do século 18 e 19 explorou até as crianças e a solução contra tal exploração foi a união de trabalhadores na forma de sindicatos e as respostas do poder público na forma de direitos e leis de proteção ao trabalhador.
O neoliberalismo pós 1980 é mais uma proposta ideológica de quem tem mais dinheiro: é um projeto político e econômico anti-ético e anti bem-estar (anti welfare), feito por indivíduos multimilionários, que desmanchou sindicatos e retirou direitos dos trabalhadores. Desenvolver esta questão ética é desenvolver valores universais... Um processo pedagógico, filosófico e de construção do conhecimento que se arrasta desde o iluminismo. É o contínuo e difícil processo de conquista (progresso) e desmanche (retrocesso) mostrado no vídeo.
Todos os processos de desmanche da infraestrutura ou dos direitos das pessoas, são projetos do capitalismo e seus respectivos movimentos (liberalismo e neoliberalismo, por exemplo) que tratam a maioria dos seres humanos como meros objetos. E como um sistema tão nocivo à humanidade persiste? Como tais ideologias objetificadoras prevalecem em grande parte das nações?
Para entender isto, vamos as últimas fases da ideologia que põe o dinheiro no centro de todos assuntos (capitalismo): Desde o desenvolvimento das mídias de massa no século 20, tal sistema se apoia em discursos, propagandas e afins. Ao lado de empregos precarizados (que pagam mal e exigem muita produtividade do trabalhador), promete-se o enriquecimento e produtos supostamente irresistíveis dos mais variados tipos. Propaga-se as ideias de meritocracia e a "criação de necessidades" como o consumismo: Compre cada vez mais, consuma, obtenha algum prazer sensorial, ou, se puder, muito prazer sensorial. Oras, isso é uma maneira de se ignorar o raciocínio e os sentimentos - estes últimos (os sentimentos) estão por trás da empatia/ do ato de se por na situação dos outros e se sensibilizar.
O capitalismo, o liberalismo e o neoliberalismo são essencialmente ideologias/ sistemas materialistas e niilistas: Pregam que só a matéria importa e que nada existe depois da morte do corpo. Aqui alguns poderiam afirmar que as religiões são tão ou mais perigosas que o capitalismo, mas isto é outro engano. As religiões nocivas quase sempre escondem um interesse material por trás: Seus líderes querem enriquecer, viver no luxo etc. Uma religião capitalista ou materialista é uma mentira grotesca e contradiz o cerne de todas religiões verdadeiras e de todas espiritualidades.
Há tantas evidências "científicas" de que o materialismo e o niilismo estejam certo quanto o mentalismo ou o espiritualismo: Nenhuma! Porém as duas primeiras ideologias são reducionistas servindo especificamente para estudar a "matéria" perceptível sensorialmente. Alegar que elas são a única base do conhecimento verdadeiro ou que são a verdade (absoluta), é mera retórica. É negar a mente (e tudo o que puder se relacionar com a mente, como alma etc) pelo simples fato de negar, ou seja, é opinião que nega a filosofia pois nega tudo que é abstrato (ética, valores individuais e coletivos, metafísica etc). Tais ideologias falaciosas não podem ser combatidas por outras ideologias ingenuamente materialistas - o socialismo e o comunismo fracassaram em combater liberais e neoliberais porque não consideram a mente abstrata, ignoram a subjetividade das pessoas e seus sentimentos. Negam a possibilidade de que a mente seja alma, imortal e com toda uma extensão desconhecida de existência. Negar aqui é afirmar a não existência, ou seja, uma falácia. A vantagem de uma visão de mundo e de um pressuposto espiritualista é considerar, no mínimo, uma dimensão além da material: Uma realidade onde são importantes e reais as virtudes, os valores universais como o bem entre outras ideias, a possibilidade da mente com seus respectivos pensamentos, sentimentos e identidade ser ou fazer parte da alma, a possibilidade de haver vidas além desta que vivemos. Uma realidade onde não se consideram culturas espiritualistas como inferiores. Uma realidade onde os saberes de vários povos (celtas, hindus, mazatecas, yourubá etc) não são considerados falsos!
Como o socialismo (ou comunismo) poderiam esperar sucesso sem dar ênfase à importância da ética e seus respectivos valores universais? Como esperar uma conscientização da população, para que esta se identifique como uma sociedade, sem desenvolvimento de fatores emocionais (e sentimentais) como a empatia? Qual é a dificuldade em entender que sem desenvolver estas questões "abstratas" ligadas à filosofia (ética), à psicologia e à construção do conhecimento (epistemologia, pedagogia etc) não há progresso humano coletivo nem individual? Sem a ênfase na ética e sem ao menos tentar fomentar empatia, é óbvio que as ideologias e sistemas mais desumanizados e objetificadores prevalecem. É por isto que o capitalismo sobrevive às crises, regularmente reinventado por elites econômicas/ financeiras. A linguagem das propagandas e ideologias capitalistas, repletas de recortes alienados da realidade e de mentiras, estão em acordo com suas bases reducionistas e desumanizadas. Essa base reducionista é a mera opinião de que o bem não existe e de que a mente é só o cérebro ou reações eletroquímicas do sistema nervoso. Estas opiniões não podem ser provadas cientificamente, por que a ciência não se baseia em negações nem tem a função de negar possíveis fenômenos, relatos de experiências individuais, fatos internos do ser humano etc.[1]
Toda ideologia materialista quando elevada a uma verdade superior, seja na construção de conhecimento ou no viver/ no cotidiano dos seres humanos, fomenta uma busca por bens materiais e por experiências meramente sensoriais... O raciocínio e a lógica não devem priorizar questões exclusivamente materiais, pois só são completos quando visam o Bem, admitindo que ele é uma ideia abstrata porém superior! Ninguém toca, cheira ou degusta o bem, mas ele é o conceito central na ética. Ele é o conceito central da filosofia ocidental escrita por Platão há cerca de 2400 anos! [2] Esta ideia* do bem é o que há de mais amável! [3] Sim, isto é filosofia ocidental em sua origem - se a ciência despreza conceitos como o Bem e o amor, a filosofia não deve desprezar tais temas tão importantes para o ser humano. Qualquer afastamento destes conceitos é mera retórica: é negar o Bem e sua importância histórica e atual para toda a humanidade. O amor discutido por Platão, como por exemplo, na obra O Banquete, não é mesquinho, nem individualista: ele pode começar com paixões de uma pessoa para a outra (eros), mas deve ser expansivo, perpassando as amizades (filia) até alcançar o amor às instituições com fins coletivos/ sociais e às psiquês (almas ou mentes) da humanidade, em nível coletivo (ágape).
Mas se a filosofia ocidental fundada por Platão é tão focada no bem e no amor ela é permissiva com a injustiça? Também não: A justiça deve ser aplicada para corrigir a psique de indivíduos corrompidos pelo poder (seja econômico, político etc), mas ela não é o tema central da filosofia em sua origem. A justiça proposta por Platão, e por seu mestre, Sócrates, não é punitivista! Portanto não é uma justiça que se baseia na ameaça e no medo; ela prioriza a melhoria das pessoas partindo de suas psiquês.
O ponto central é a ideia do bem; ideia porque assim como a psiquê, ela é abstrata. Não é meramente sensorial, pois o que é captado pelos 5 sentidos humanos se decompõe com o passar do tempo e as ideias não são assim: Elas podem ser perpetuadas.
*Eidos de Platão tem um significado mais profundo que cito em outros textos.
Assim, fica nítido que o capitalismo não tem nada do cerne da filosofia ocidental, que é socrática/ platônica em sua origem. A filosofia ocidental em sua base é ética e busca a melhoria do ser humano à nível psíquico [4]. O capitalismo sendo uma ideologia materialista, não é nada psíquico: Ele nega o psiquismo, ou seja, nega a subjetividade e a mente humana de modo geral. O capitalismo assim, é uma ideologia reducionista, porém pior do que um materialismo puro e cru, ele trata o dinheiro como questão central na vida humana. O materialismo tem sua utilidade em estudos especializados em fenômenos perceptíveis sensorialmente como eu já mencionei, já o capitalismo foi colocado como uma ideologia que lida com seres humanos a nível coletivo! Ao deixar as questões filosóficas de lado, tal ideologia jamais deveria ser aplicada nas relações humanas! Talvez isto se justificasse na antiguidade devido às limitações de transporte, de estocagem, do desenvolvimento das leis etc. Porém a proposta do capitalismo após a industrialização é de que tudo deve ser mercantilizado, portanto esta ideologia além de materialista, é mercantilista também. Não só isso, ela mercantiliza a própria unidade de medição de valores dos bens e serviços, ou seja, mercantiliza o próprio dinheiro... E isso é um extremismo da mercantilização: Qual é a lógica de se alugar ou vender dinheiro?? O que há de científico nisto? Certamente nada.
O capitalismo então como uma ideologia materialista e mercantilista-extremista precisou de argumentos para ser colocado em prática na história da humanidade! É aí que surgiram os sistemas "sócio econômicos" do liberalismo (na Inglaterra durante o final do século 17) e do neoliberalismo (nos Estados Unidos em meados do século 20). Estes sistemas, como são popularmente ensinados nas escolas, não ficaram restritos aos seus países de origem: Eles foram colocados em prática por iniciativa de empresários multimilionários através de governantes servis ou interesseiros em várias nações, principalmente as do ocidente. Os "intelectuais" que apoiaram tais sistemas pouco se importavam com ética, valores universais, ou com a subjetividade dos seres humanos. E por se distanciarem destes temas centrais, tais "intelectuais" abandonavam ou mesmo contrariavam o cerne da filosofia ocidental, podendo ser considerados na prática como sofistas que se apresentavam como filósofos entre os séculos 17 e 19 ou como economistas a partir do século 20. Por fim, defensores do capitalismo jamais podem ser verdadeiros construtores de conhecimento. Seus argumentos contradizem a filosofia ocidental desde sua raiz em Sócrates e Platão, impossibilitando a utilização de pressupostos filosóficos para construir um conhecimento aplicável sobre as sociedades e sobre a humanidade em geral. Os pressupostos do capitalismo são meramente "filodóxios": Apoiados em mera opinião. Esta opinião não pode ser considerada filosófica porque se baseia em negações como descrevi anteriormente: Afirma que só a matéria mensurável importa (ou só ela existe) praticamente negando a importância da psiquê e toda sua subjetividade (sentimentos, pensamentos etc), negando valores universais (justiça, piedade, equidade, progresso entre outros tão importantes na construção das leis para convívio em sociedade) e precificando vidas humanas. E se o capitalismo não pode ser defendido filosoficamente, ele não pode ser defendido cientificamente nem religiosamente ou de qualquer outra forma que busque construir um saber. A defesa do capitalismo, ao se apoiar em tantas negações (e reduções, desconexões/ recortes, mentiras etc), nega um diálogo real. O termo diálogo que vem dos antigos termos gregos "dia" e "logos", respectivamente significando "através de/ dois/ completamente" e "estudo/ palavra/ racional" não são adequados aos defensores do capitalismo, pois as negações se configuram mais como o termo grego "diabolos", com o sufixo bolos significando negação. Negar a existência ou a importância da ética, da ideia do bem e da psiquê, é meramente (talvez literalmente) diabólico.
Sim, a psiquê humana e a ideia do bem são temas de extrema importância para o ser humano, seja a nível individual ou coletivo. A psique é importante por se tratar de toda realidade interna do ser humano, sua subjetividade humana e possivelmente sua alma, já que não existem provas de sua inexistência. Tentar provar inexistências é negação, uma atitude básica de ideologias como o capitalismo. Qualquer ideologia que negue a psique, a possibilidade de melhora e o bem, quando aplicada ao ser humano, é uma ideologia mentirosa e destrutiva.
Referências: (listagem incompleta)
https://www.youtube.com/watch?v=O-QomaXpn_A (Como era a Escravidão na África antes da chegada dos europeus)
[1] https://nea-ekklesia.blogspot.com/2023/12/filosofia-teoria-mente-corpo-e-o.html
https://nea-ekklesia.blogspot.com/2023/11/filosofia-teoria-mente-corpo-e-o_01035175189.html
https://nea-ekklesia.blogspot.com/2023/11/filosofia-teoria-mente-corpo-e-o.html
[2] Platão - A República;
[3] Platão - O Banquete;
[4] Platão - Fedon;
https://nea-ekklesia.blogspot.com/2023/08/psique-e-importancia-dos-valores.html