Breves observações sobre a obra Parmênides (Das "Formas")

 

Deste ponto em diante pretendo trazer mais leituras de filosofia neste blog. Particularmente darei ênfase as obras de Platão (e de Sócrates), pois são os fundadores da filosofia ocidental - uma filosofia centrada na ética, que abordou questões de comportamento dos indivíduos ante a sociedade, de educação, de construção do conhecimento, de política e de espiritualidade/ religião.

Parmênides (ou, Das Formas) é um texto de Platão que mostra os personagens se recordando de quando Sócrates era jovem ao conhecer Parmênides e Zenon (traduzido para o português como Zenão). 

 Embora o diálogo entre Sócrates, Parmênides e Zenon pudesse ser uma das primeiras “discussões” do mestre de Platão com sábios de seu tempo, sua historicidade não é certa: De acordo com as datas mais aceitas em que ambos filósofos viveram, o diálogo teria acontecido quando Parmênides estava em seus últimos anos de vida e Sócrates tinha só 10 anos de idade... E isto é improvável! Assim, restam duas opções: Esta é uma das obras onde Platão usa de "licença poética" e cria o diálogo entre os  personagens; ou o período em que um dos (ou ambos) filósofos viveram está errado e o encontro realmente aconteceu.

Independentemente da historicidade do diálogo, o seu conteúdo não é dos mais fáceis. O diálogo dos personagens desta lembrança começa sobre o uno (ou Uno, talvez seja a grafia mais correta), e aborda ontologia, numerologia, esbarrando sutilmente em questões científicas descobertas somente no século 21 (2500 anos após a morte de Sócrates). Por exemplo, o que Parmênides diz ao descrever o Uno, dá indícios sobre como ocorrem as relações entre o microcosmo (moléculas e átomos que formam os corpos), o “mundo perceptível” pelo ser humano em seu estado natural e o macrocosmo (galáxias etc). Pode-se até mesmo especular como ocorre uma relação entre a terceira e a quarta dimensões a partir da fala do personagem Parmênides. Isto tudo falando somente em linguagem filosófica; nada de física, de química ou de matemática...

 Parmênides diz que alguém que sustente que para cada coisa há um ser (ousian), ele por ele mesmo, concordaria que nenhum deles residiria em nós. ... Entende-se que esse ser (ousian) é absoluto. Então como poderia ser absoluto se residisse em nós, seres humanos? Nós vivemos entre as coisas que nos cercam e nomeamos tais coisas, por isso (deste ponto de vista, ao menos) somos relativos e não absolutos. 

Neste trecho podemos entender que o que constitui o meio onde vivemos seja essencialmente formado por coisas perecíveis: Plantas, animais, solo, minerais, todos têm moléculas, átomos e sub-partículas, sendo divisíveis, decompondo-se em algum nível etc. Mas se nossos corpos são perecíveis, o que há de absoluto em nós?

Platão, em outras obras, vai dizer que nossa psiquê (seja alma ou mente) é indivisível. Mesmo as coisas mais maléficas para a psiquê, não podem destruí-la. Platão cita como exemplo, os vícios (não exatamente em substâncias psicoativas/ as famosas drogas), que fazem as pessoas a se entregarem aos prazeres sensoriais dos sabores dos alimentos, do sexo, do acúmulo de riquezas materiais (etc). Tais sensações de prazer nunca satisfazem definitivamente a pessoa, e hoje neste início de século 21, possivelmente já existem estudos confirmando isto: A compulsão em prazeres (ao menos os sensoriais, ou os mais químicos, como do paladar, do tato...) parece causar o contrário da satisfação plena ou definitiva: O sistema nervoso de nosso corpo acostuma-se com os efeitos causados por certas substâncias, e, ao invés de "satisfazer-se", tende a "pedir" mais. Obviamente a intenção aqui não é detalhar a parte neurológica, mas apenas indicar que há um nexo ou aproximação entre as explicações "socráticas/ platônicas"de vício e psiquê e as descobertas psico/ neurológicas da pós modernidade.

Nas diversas obras em que Platão discorre sobre a psiquê, ele frequentemente critica a ganância, a avareza e o hedonismo (em Hipias MaiorFilebos e Górgias, por exemplo). Ao mostrar Sócrates utilizando a maiêutica nos diálogos com outros personagens, Platão indica que é possível despertar as virtudes, a noção do que é belo e bom (kalos) nas pessoas.

Seriam estas coisas o que temos de absoluto? A psiquê (mente/ alma) e a noção do bem? É o que parece.

Parmênides continua explicando a importância de se levantar as consequências possíveis caso algo seja e caso algo não seja. (136 a-d) Este parece um modelo de base filosófica onde não se prioriza descobrir se determinada coisa (hipótese, teoria, fenômeno...) é ou não é - Prioriza-se quais serão as consequências disto. Isto já mostra que o importante dos estudos não é descobrir o que é ou o que não é. A finalidade, ou a importância é quais serão as consequências do estudo. Para que a pesquisa servirá?

Embora alguns autores da era moderna chamem isto de teleologia, para Sócrates e Platão,um professor de ontos* deveria buscar a melhor maneira das coisas serem. Assim entende-se que buscar a melhor maneira das coisas serem é a finalidade da busca pelo saber, da construção de conhecimento. Tais questões que estão no ponto de partida de qualquer estudo, são da Ontologia, mas isto eu explicarei melhor ao "falar" da obra Fedon.

Como o texto Parmênides é complexo, eu encerrarei minhas observações e explicações por aqui e talvez eu traga mais comentários sobre ele no futuro... 


*(de ser, do ser, ou seja, professor de ontologia)

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