Decidi escrever este texto talvez como um desabafo de algumas coisas que vim sentindo nestes últimos anos;
Até 2017 eu fui um cara tentando me adaptar à sociedade: arrumar um emprego, me manter nele para pagar minhas contas, e quem sabe, arrumar uma namorada. Sobre emprego e contas eu ainda tento acertar isto, porém sobre relacionamentos a história é diferente. Depois de um namoro fracassado, eu passei por uma fase bastante desiludida por uns 2 anos, mas eu citei as minhas contradições deste período noutro texto: resumidamente elas me impactaram mudando meu sentido de vida, fazendo-me priorizar outras coisas diferentes de um possível relacionamento. A questão é que após esses 2 anos (em 2019), eu comecei a ter uma série de experiências horríveis, sendo a maioria delas psíquicas em algum nível, pois me afetavam a consciência, os pensamentos e sentimentos de maneira visceral. Nada do que eu consiga explicar cientificamente e nada que a ciência consiga explicar: consegui ir lidando com tais experiências buscando desenvolver o que se chama por aí, de espiritualidade;
Fui em terreiros de umbanda e centro espírita. Depois passei a ler sobre espiritualidade e sobre filosofia e tentei praticar ioga (hinduísmo, não esses exercícios de ioga que se vê por toda parte)... Tentei também praticar o que Jesus ensinou: o bem externamente, através das ações, e internamente, em pensamento e intenção. Obtive alguma melhora, mas o esforço é contínuo... e bem solitário.
Quão solitário?
Depende do ponto de vista. Se eu considerasse que só existisse os seres vivos (biológicos) da Terra, seria uma das mais absurdas solidões possíveis; Não consigo compartilhar minhas experiências nem dificuldades seja com ateus ou com religiosos, pois a maioria me consideraria (certamente considera) uma anomalia, um louco ou um mentiroso. Consigo falar uma coisa ou outra com espíritas, mas ainda assim com uma série de dificuldades. Isto porque todo ser humano está repleto de opiniões e preferências que tornam o diálogo muito difícil e eu estou incluso nisto. Gostaria de não me perder tanto em opiniões, mas é difícil. Talvez praticar mais meditações me ajude, embora o local que eu frequentava para isso se mostrou inóspito por razões que... não dá para compartilhar com a maioria das pessoas;
Apesar de ser difícil falar sobre tais assuntos com as pessoas, decidi "escrever" este texto... Às vezes acordo com sentimentos ruins muito incômodos principalmente pelo fato de eu não saber se são meus. Porém esta sensação começou depois do processo de tentar desenvolver minha espiritualidade: Quando procurei ajuda na umbanda e no espiritismo, tais grupos foram os únicos que me ofereceram explicações menos ruins sobre o que se passava comigo entre 2019 e 2020: Se tratava da tal mediunidade. Isso me fazia alguém especial? Não.
Mediunidade é simplesmente estar no meio da realidade "material" (enfim corpórea, tridimensional) e da espiritual. Todo ser humano é medium. A diferença é que uns percebem a realidade espiritual e outros não. Entre os que percebem, uns percebem vagamente, outros nitidamente, entre uma série de diferenças nas experiências de cada indivíduo... Não cabe a mim detalhar mais isso: Quem se interessar, que procure respostas na umbanda, no espiritismo ou em qualquer outro caminho espiritual, seja religioso ou não.
Eu digo que estes meios me ofereceram as melhores respostas, porque levam em consideração meus relatos. E meus relatos são feitos com base em minhas experiências, não nas de outras pessoas ou de outros grupos, sejam religiosos ou ateus. E é aí que a ciência falha miseravelmente em explicar experiências como as que eu tive: Ela parte de um pressuposto próprio, que ignora relatos individuais. Ignora o entendimento da pessoa que relata tal tipo de experiência, bem como também ignora sua cultura, sua religião, espiritualidade, cosmovisão etc. A visão de mundo mais aceita na ciência é a materialista/ niilista que expliquei e critiquei em outros textos. Esta visão patologiza pessoas como eu, e indica tratamento medicamentoso como se este resolvesse a situação. Para piorar, por cerca de 3 anos e meio eu mantive um relacionamento próximo com uma pessoa que passou por experiências (mediúnicas etc) similares às minhas. Essa pessoa tentou tratamento psicológico e principalmente psiquiátrico (medicamentoso) por anos, desde antes de me conhecer e não obteve melhoria significativa: As "visões" mediúnicas dela reduziram, porém o sofrimento psico emocional continuava frequente (praticamente diário) e intenso; Suas crises de ansiedade dificultavam as relações sociais e os diálogos, fazendo ela ficar tensa, preocupada e inquieta maior parte do tempo.
Por estas razões tento o desenvolvimento espiritual, embora também tentei a psicoterapia sem grandes resultados: Esta última eu tive dificuldade em manter por que a psicoterapeuta não podia ou não se sentia adequada (devido a supostas regras da psicologia se entendi direito) para se aprofundar nas minhas questões espirituais e experiências mediúnicas.
Mas eu citei este período de minha vida pelo seguinte motivo: Foi mais ou menos nesse ano de 2021 que meu sono passou do péssimo para o apenas ruim: Os fenômenos os quais a umbanda e/ ou o espiritismo classificavam como "obsessões", foram substituídos, pois passei a discutir quase todas as noites durante meses e não estive exatamente "acordado" durante estas discussões. Essa é mais uma experiência que poucos dão ouvidos, porque não se encaixa na ciência tradicional nem nas religiões - ela é aceita no esoterismo (hermético ou sincrético, não entendo muito deste assunto) e talvez com muitas ressalvas no espiritismo, na umbanda e outras religiões afro-brasileiras. Talvez. Com ressalvas.
Minhas noites de sono por cerca de um ano, ou um pouco mais que isso, parecem ter se tornado o que os esotéricos chamam de "viagem astral". Eram discussões psíquicas às quais as aparências nada importavam e acho que às vezes eu nem "via aparências" durante estas experiências. O que eu percebia nitidamente eram outras mentes sem corpos ou independentes de corpos. Raramente havia alguma concórdia entre mim e elas e eu lembro de pouquíssimos trechos das discussões: Algumas pareciam mentes tentando me convencer que Deus não existe e/ ou que espíritos não existem, enquanto outras claramente mostravam algum desejo sexual e tentavam me induzir a algum ato sexual. Era como se estas "mentes" das quais me lembro o conteúdo tentassem a todo custo pregar uma patética doutrina materialista para mim, mas era tarde demais para isso - minha mediunidade como chamam os espíritas e umbandistas estava muito aflorada, ou bem sensível.
Eu devo ter anotado algumas destas experiências em blocos de papel que eu nem olho mais. Tentei olhar tais anotações poucas vezes e elas me causaram nítido mal estar psíquico/ emocional. Bem como os sonhos que anotei de meses antes de tais experiências. Alguns destes sonhos bem como umas poucas discussões que eu me lembrava, pareceram não ter conexão com a vida que vivo em vigília, ou seja, com minha "vida normal", material etc. Apesar da falta de conexão com "esta vida", elas eram tão reais quanto as outras experiências que eu me lembro mais claramente e também tão reais quanto tudo que eu faço e percebo em vigília. Note que não parecem tão reais: Elas são tão reais quanto. Esta é a descrição mais precisa que consigo dar.
Pois bem, foi depois destas discussões que meus sentimentos ao despertar ficaram bagunçados não constantemente, mas com certa frequência. Isso parece ocorrer porque eu já não tenho certeza quais são os meus sentimentos e quais são de outras "mentes" (espíritos na linguagem do espiritismo, umbanda etc). Mas faz sentido que meus sentimentos fiquem assim ao acordar: Pois também muitos dos sonhos que eu tenho são com pessoas regularmente preocupadas com questões terrenas. Sejam cheias de desejos ou tomadas por desânimo, irritações e decepções.
Daí eu me pergunto: que benefício há em se pregar o materialismo como verdade absoluta em nossa sociedade? Eu entendo que existem muitos picaretas nas religiões e ainda existam charlatães no esoterismo e em centros de espiritismo, de umbanda etc. Porém não é espalhando a visão de mundo materialista que se combate esses indivíduos interesseiros e sim, denunciando-os caso a caso e expondo seus objetivos etc.
Para quem estudou história da psicologia, da ciência e da filosofia, como eu, sabe que a "relação entre mente e corpo" é uma questão em aberto: Não foi resolvida, pois não se prova a inexistência de algo. Ninguém provou e certamente não provará a INEXISTÊNCIA da mente "abstrata" ou da alma/ do espírito. Podem sim realizar descobertas relacionadas a tais fenômenos e seus respectivos relatos, mas nenhuma construção de conhecimento deveria visar provar a inexistência de algo. Ninguém que fala "eu sei que não existe" pode ser levado a sério, pois uma pessoa que se pauta por frases como esta, não busca construir conhecimento. Sabemos somente o que existe e se uma pessoa teve alguma a experiência e outra não teve, a que não teve, não sabe de coisa alguma a respeito! Isto é lógica e construção de conhecimento dialética para se combater sofisma; Para se combater o uso antiético da comunicação! Isto é especificamente tratado no livro 6 da obra A República de Platão: o cerne da filosofia ocidental busca construir conhecimento não por métodos reducionistas como o empírico e sim no diálogo alicerçado na presunção da ignorância e buscando a ética como valor universal. Defender uma postura reducionista e materialista pode até parecer aceitável em determinados estudos especializados da medicina, da biologia, da física ou da química, mas não na psicologia e nem em estudos interdisciplinares e transdisciplinares; Também tratei disto nestes outros textos: https://nea-ekklesia.blogspot.com/2023/11/filosofia-teoria-mente-corpo-e-o.html
https://nea-ekklesia.blogspot.com/2023/11/filosofia-teoria-mente-corpo-e-o_01035175189.html
https://nea-ekklesia.blogspot.com/2023/12/filosofia-teoria-mente-corpo-e-o.html
Inclusive, o mesmo fundador da filosofia ocidental fala muito da importância da ética, embora ele pouco usasse esse termo. Platão chega a indicar que não há conhecimento verdadeiro sem os valores tipicamente tratados pela ética: a justiça, a moderação, a coragem e o mais sublime - o bem/ belo. Isto porque estes valores são imutáveis de acordo com o autor: Eles independem das modificações da vida terrestre e seus ciclos. Eles são "unos", e isto significa que são universais afinal não são valores individuais; são bons para todos e obviamente bons não só fisicamente, mas principalmente psiquicamente e eticamente.
Minha busca por desenvolvimento espiritual é essencialmente isto: ética. Às vezes sinto vontade de compartilhar experiências espirituais, às vezes sinto vontade de ajudar outros nesse assunto. Mas desenvolvimento espiritual em geral exige mudança de atitudes e de prioridades e eu não posso modificar os outros, a menos que eles queiram - aí dialogamos. Talvez por isso às vezes tenho esta dificuldade sentimental... Quanto a mim, sinto-me no dever de melhorar a mim mesmo, ainda que eu não saiba o quão bem sucedido serei nesta tarefa.
Nos momentos de solidão então não adianta eu buscar outras pessoas, a menos que tais pessoas tenham objetivos similares aos meus. Mas como eu disse, meu caminho espiritual não segue religião alguma e isto faz dele muito diferente ou estranho para religiosos. Por um outro lado ele envolve escolhas que parecem muito minimalistas ou extremistas para ateus e pessoas com estilo de vida materialista (e não estou falando de um consumista desenfreado aqui e sim de qualquer pessoa mais ou menos materialista bem aceita na maior parte da sociedade). É por isso que entendo que devo buscar o Bem, o Ser ao qual entendo como Deus. E esse Deus não é individualista, porque é bom e sua bondade é universal: Una e coletiva. Assim ele é acessível a todos. Por acessível entendo mentalmente/ espiritualmente, pois não necessitamos de templos para alcançá-lo nem o encontraremos meramente na "matéria".
Não existem comunidades de espiritualistas pela internet?
ResponderExcluirDeve existir. Anos atrás eu conheci uma comunidade de místicos cuja a maioria era espiritualista. De qualquer modo alinhar ideias é bem difícil...
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