Esta obra chamada de "Fédon (ou Da Alma)", aborda os momentos finais de Sócrates e a conversa com seus amigos. O personagem Fédon narra como foi o diálogo ao seu amigo Equécrates.
Enquanto aguarda a aplicação de sua sentença, Sócrates explica porque não temer, não se rebelar contra a morte:
Ele diz a Símias e Cebes (identificados como filósofos pitagóricos, pelo tradutor Edson Bini), que acredita estar indo para junto de deuses sábios e bons, bem como se juntar a homens que já morreram e são melhores do que os de onde vivem (as Pólis helênicas etc).
Símias concorda com Sócrates, que a morte é apenas a separação da psiquê do corpo, como uma passagem para o desconhecido: a psique (alma e mente, como cito noutros textos) não deixa de existir repentinamente após a morte do corpo... Por causa disto os filósofos verdadeiros vivem próximos da morte, pois priorizam a psique ante o corpo, se afastando de prazeres corporais e bens materiais, consumindo só o necessário. Fazem isso porque a psique, independentemente dos sentidos, é o “meio” para se encontrar a "fronésis" (conhecimento, sabedoria). Os sentidos como a visão e a audição podem enganar o filósofo e não são capazes de captar a justiça, por exemplo. Sendo os demais sentidos (olfato, paladar e tato) mais imprecisos ainda, eles dificilmente ajudariam o filósofo em sua busca por conhecer as coisas que são (tón ónton) - É com a psiquê que se alcança a verdade, o que é justo, bom e belo (kalos, já explicado em outros textos). As necessidades, doenças e desejos por prazer, típicos do corpo atrapalham o indivíduo e sua psiquê na busca pela verdade. Sócrates explica que o corpo com todos esses problemas e mais uma gama de ilusões e tolices impedem a atividade de pensar tão necessária aos filósofos, além de serem os causadores das disputas, conflitos e guerras entre humanos.
Vale notar que apesar do discurso aparentemente "segregador" entre corpo e psiquê, feito pelo autor, tal narrativa não tem nada de absurdo - ela é um tema que se manteve em discussão filosófica por séculos, ganhando destaque no início do iluminismo com René Descartes, mantendo-se aberta até os dias de hoje: Embora pareça haver uma predominância da visão materialista na "academia" atual, de que o ser humano é só o corpo, e a mente é apenas o cérebro ou o sistema nervoso e seus efeitos eletroquímicos, não há prova definitiva de que a psiquê/ alma não exista; O que existe no meio científico (principalmente desde o século 19) é uma série de negações de relatos que envolvem a alma ou espírito. O discurso de teor dualista feito por Platão não é só desprezado por materialistas, pois há muitos estudiosos que tentam explicar ou encontrar uma integração ou totalidade do ser humano (e sua relação mente-corpo) e nessa busca por totalidade não aceitam a ideia da relação entre corpo e alma. Não detalharei tal assunto aqui - resumo isso citando que essa integração ou meio termo entre corpo e mente foi investigada algumas poucas vezes na história e ainda pode ser descoberta e explicada... Se não ficarmos presos ao biologismo...
Os cuidados que o corpo exige e a busca por riquezas tiram o tempo de ócio necessário para a filosofia e mesmo quando se consegue tal ócio, corre-se o risco de se transtornar com preocupações, agitações, confusões e medos. Por esses motivos, Sócrates explica que é necessário se afastar do corpo buscando purificar-se para que em seu destino, se comungue com seres puros e se passe a conhecer o que há de mais puro, como a verdade.
Assim não haveria lógica em um verdadeiro filósofo temer a morte; Tal temor é uma evidência que o(s) indivíduo(s) são apegados ao corpo (filosómatos), apegados ao dinheiro (filokhrímatos) e/ ou apegados a honra e a disputa (filónikos).
O afastamento do corpo/ purificação explicado por Sócrates é o que faz o filósofo viver próximo da morte cultivando a esperança.
68d Sócrates continua: “Ignoras porventura, [lhe disse], que na opinião de toda a gente a morte se inclui entre os denominados males?
Sei disso, respondeu.
E não é pelo medo de um mal ainda maior que enfrentam a morte esses indivíduos corajosos, quando a enfrentam?
Certo.
Logo, é por medo e temor que os homens são corajosos, com exceção dos filósofos, muito embora se nos afigure paradoxal ser alguém corajoso por temor e pusilanimidade.”
Sócrates também explica que muitas pessoas se mostram autocontroladas em relação a certos prazeres, para priorizarem outros. Assim esse autocontrole seria somente parcial, pois a pessoa teme perder seu prazer favorito e só por isso abre mão de um ou outro prazer.
Porém o filósofo não é autocontrolado por priorizar prazer sensorial algum, e sim, por buscar a sabedoria - isso não é como trocar dores por dores, prazeres por prazeres ou temores por temores e sim buscar viver a moderação (sophrosyne), a coragem, a justiça e resumidamente a verdadeira virtude que só existem junto à sabedoria.
70a Cebes concorda com Sócrates com exceção no que se diz respeito a evidência da imortalidade da alma; Ele explica que a maioria das pessoas simplesmente pensa que a psiquê não existe em lugar algum após a morte - ela seria destruída ou dispersa como sopro o fumaça. Sócrates primariamente então, explica que para as pessoas que dizem que a alma vai para algum lugar após a morte, ela deve antes vir de algum lugar. Pois se renasce "lá" (no mundo dos mortos, Hades etc) é por que existiu antes ("aqui", na Terra, na realidade corpórea/ material), então o mesmo vale para quando a alma surge na (vida da) Terra: Ela teria vindo do mundo dos mortos, o qual os gregos chamavam de Hades. Buscando outra explicação, Sócrates propõe investigar a psiquê a partir de todas coisas que são geradas; ele afirma que a vida está para a morte, assim como várias outras coisas (que são geradas) estão para um oposto: O frio existe por causa do calor e vice versa. O grande por causa do pequeno e assim por diante. Esta espécie de dualidade indica uma aproximação da teoria (científica) geral dos sistemas, onde a relação entre as coisas seria um ponto central da investigação para construção de conhecimento.
Após mencionar que a morte marca o fim da vida (viver e morrer são opostos), Sócrates disse: o que nos compete fazer na sequência? Negaremos o processo contrário? Será a natureza unilateral nesse caso? Ou teremos que admitir que há um processo de geração correspondente ao contrário de morrer?
Com certeza teremos que admitir, diz Cebes (também traduzido como Cebete).
E qual seria esse processo? Pergunta Sócrates.
Voltar novamente à vida. Respondeu Cebes.
72a Sócrates diz: Então, se houver esse voltar novamente à vida, seria o processo de geração dos mortos aos vivos (...) dessa maneira chegamos á conclusão de que os vivos são gerados a partir dos mortos e estes a partir dos vivos;
73-75 Símias e Cebes então discutem como as reminiscências poderiam estar ligadas à imortalidade da psiquê discutida com Sócrates. Para falar das reminiscências Sócrates explica como a psiquê humana pode se recordar de coisas percebendo (vendo, ouvindo etc) coisas semelhantes entre si e também diferentes entre si (como em processos de associação...) A partir daí, eles investigam o que é a igualdade em si mesma (o idêntico, também abordado em Sofista) e quando a psiquê adquire essa noção do que é igual e do que é diferente. Como o ser humano desenvolve seus sentidos tão logo quanto nasce, Sócrates e Cebes concluem que, o ser humano desenvolve a noção da igualdade em si antes do nascimento, de existência(s) anterior(es). Sócrates menciona que essa igualdade em si, é relacionada ao "kaloy" (o bem, a beleza) em si, bem como também é relacionado à justiça e outras virtudes/ valores universais. Então, sobre o conhecimento da igualdade e da semelhança, o filósofo diz: “Se, em verdade, segundo penso, antes de nascer já tínhamos tal conhecimento e o perdemos ao nascer, e depois, aplicando nossos sentidos a esses objetos, voltamos a adquirir o conhecimento que já possuíamos num tempo anterior: o que denominamos aprender não será a recuperação de um conhecimento muito nosso? E não estaremos empregando a expressão correta, se dermos a esse processo o nome de reminiscência?” Símias então pergunta se a noção do idêntico (e das virtudes) não poderia ser adquirida em algum momento do nascimento, pois este é muito reservado, diz o filósofo. Sócrates relembra que, conforme mencionado no diálogo, essa noção é perdida/ esquecida e readquirida no processo de aprendizado (certamente dialético/ maiêutico, como mostrado no diálogo Menon), caracterizando a reminiscência; Símias então concorda que a noção do idêntico (e das virtudes universais) deve ser/ existir "perdida/ esquecida" desde antes do nascimento.
78d Então, prosseguiu, retomemos o tema de nossa discussão anterior. Aquela idéia ou essência a que em nossas perguntas e respostas atribuímos a verdadeira existência, conserva-se sempre a mesma e de igual modo, ou ora é de uma forma, ora de outra? O igual em si, o belo em sim, todas as coisas em si mesmas, o ser, admitem qualquer alteração? Ou cada uma dessas realidades, uniformes e existentes por si mesmas, não se comportará sempre da mesma forma, sem jamais admitir de nenhum jeito a menor alteração?
Forçosamente, Sócrates, falou Cebes, sempre permanecerá a mesma e do mesmo jeito.
E com relação à multiplicidade das coisas belas: homens, cavalos, vestes e tudo o mais da mesma natureza, que ou são iguais ou belas e recebem a própria designação daquelas realidades: conservam-se sempre idênticas ou, diferentemente das essências, não são jamais idênticas, nem com relação às outras nem, por assim dizer, consigo mesmas?
Isso, justamente, Sócrates, é o que se observa, respondeu Cebete, nunca se conservam
as mesmas.
Tudo que é detectado por um ou mais dos 5 sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato) é mutável. Tudo o que não é detectável por estes sentidos pertence à categoria do idêntico a si mesmo. Sócrates utiliza este argumento para explicar a psiquê (mente, alma...) e sua imortalidade. A psiquê aqui não se trata exclusivamente de alma - ela é invisível porque pensamentos, sentimentos, intenções e valores são invisíveis (Embora neste início de século 21, alguns efeitos possam ser detectados no sistema nervoso, alegar que não há alma não é uma afirmação verdadeira comprovável: é tocar questões de cosmovisão e filosofia). Sócrates então indica que a parte perceptível do ser humano, o corpo, é mutável (nasce, envelhece...) e portanto morre e se decompõe, enquanto a psiquê provavelmente não pode se decompor nem ser dissolvida.
Isto também explica a necessidade do (re)nascimento, das reencarnações das almas: No Hades ou em sua existência imaterial (equivalente a uma realidade espiritual), seria muito difícil delas se transformarem.
A alma precisa do corpo para se modificar, mas corre o risco de ser “arrastada” pelos sentidos do corpo. Já em isolamento (em relação ao corpo) a alma é capaz de refletir por si só, assemelhando-se ao “pensamento” ou ao eidos, um estado mais “puro” (original, ou similar a si mesmo), sem se alterar.
Platão indica que sem o corpo, ou seja, na realidade espiritual, no Hades ("mundo dos mortos", das almas etc) as almas praticamente não conseguem mudar. A mudança importante para Platão é a melhoria de si mesmo - a busca pelas virtudes que são imutáveis, "unas", portanto universais. Mas porque a alma precisaria do corpo para se tornar mais "virtuosa", "excelente"/ ética? Bom, o corpo é constituído por moléculas, átomos, sub partículas etc. Nesses níveis microscópicos pode-se dizer que nossas partes (partículas) não estão estáticas/ em repouso - existe uma complexa relação que pode ser entendida, ao menos em parte, como movimento; Esta constituição dos corpos, possivelmente por partículas em algum tipo de movimento, talvez tenha relação da necessidade citada pelo autor: E nos corpos corruptíveis/ mortais onde a alma pode praticar as virtudes, os valores universais e mudar a si mesma para melhor - mais ética. Além disso, as virtudes sendo universais tem uma finalidade mais do que individual - coletiva, portanto de convívio com outras almas/ pessoas.
80d (Sócrates:) Ao passo que a alma, a porção invisível, que vai para um lugar semelhante a ela, nobre, puro e invisível, o verdadeiro Hades, ou seja, o Invisível, para junto de um deus sábio e bom, para onde também, se Deus quiser, dentro de pouco irá minha alma: essa alma dizia, com semelhante origem e constituição. Ao separar-se do corpo, no mesmo instante se dissiparia e viria a destruir, conforme crê a maioria dos homens: Nunca, meus caros Símias e Cebete! Pelo contrário; o que se dá é o seguinte: se ela é pura no momento de sua libertação e não arrastar consigo nada corpóreo, por isso mesmo que durante a vida nunca mantivera comércio voluntário com o corpo, porém sempre evitara, recolhida em si mesma e tendo sempre isso como preocupação exclusiva, que outra coisa não é senão filosofar, no rigoroso sentido da expressão, e preparar-se para morrer facilmente... Pois tudo isso não será um exercício para a morte?
Sem dúvida nenhuma.
81a-d Assim constituída, dirigi-se para o que lhe assemelha, para o invisível, divino, imortal e inteligível, onde, ao chegar, vive feliz, liberta do erro, da ignorância, do medo, dos amores selvagens e dos outros males da condição humana, passando tal como se diz dos iniciados, a viver o resto do tempo na companhia dos deuses. Falaremos desse jeito, Cebete, ou de outra forma?
Assim mesmo, por Zeus, respondeu Cebete.
No caso, porém, conforme penso, de estar manchada e impura ao separar-se do corpo, por ter convivido sempre com ele, cuidado dele e o ter amado e estar fascinada por ele e por seus apetites e deleites, a ponto de só aceitar como verdadeiro o que tivesse forma corpórea, que se pode ver, tocar, beber, comer, ou servir para o sexo (embora alguns tradutores usem o termo "amor" aqui, o original em grego é afrodísia tratando do corpo, portanto de desejo erótico, sexual); e se ela, que se habituou a odiar, temer e evitar o que é obscuro e invisível para os olhos, porém inteligível e apreensível com à filosofia: acreditas que uma alma nessas condições esteja recolhida em si mesma e sem mistura no momento em que deixar o corpo?
De forma alguma, respondeu.
Porém segundo penso, de todo em todo saturada de elementos corpóreos que com ela cresceram como resultado de sua familiaridade e contínua comunicação com o corpo, de que nunca se separou e de que sempre cuidara.
Sem dúvida. Então, meu caro, terás de admitir que tudo isso é espesso, terreno e visível. A alma, com essa sobrecarga, torna-se pesada e é de novo arrastada para a região visível, de medo do Invisível – o Hades, como e diz – e rola por entre os monumentos e túmulos, na proximidade dos quais têm sido vistos fantasmas tenebrosos, semelhantes aos espectros dessas almas que não se libertaram puras de corpo e que se tornaram visível.
A explicação sobre a alma apegada à “matéria”, assemelha-se com algumas existentes no mazdeísmo (zoroastrismo), no espiritismo, na umbanda e no hinduísmo.
83b-d Convencida de que não deve opor-se a semelhante libertação, a alma do verdadeiro filósofo abstém dos prazeres, das paixões e dos temores, tanto quanto possível, certa de que sempre que alguém se alegra em extremo, ou teme, ou deseja, ou sofre, o mal daí resultante não é o que se poderia imaginar, como seria o caso, por exemplo, de adoecer ou vir a arruinar-se por causa das paixões: o maior e o pior dos males é o que não se deixa perceber.
Qual é, Sócrates? perguntou Cebete.
É que toda alma humana, nos casos de prazer ou de sofrimento intensos, é forçosamente levada a crer que o objeto causador de semelhante emoção é o que há de mais claro e verdadeiro, quando, de fato, não é assim. De regra, trata-se de coisas visíveis, não é isso mesmo?
Perfeitamente.
Porque os prazeres e os sofrimentos são como que dotados de um cravo com o qual transfixam a alma e a prendem ao corpo, deixando-a corpórea e levando-o a acreditar que tudo o que o corpo diz é verdadeiro. Ora, pelo fato de ser da mesma opinião que o corpo e de se comprazer com ele, é obrigada, segundo penso, a adotar seus costumes e alimentos, sem jamais poder chegar ao Hades em estado de pureza, pois é sempre saturada do corpo que ela o deixa. Resultado: logo depois, volta a cair noutro corpo, onde cria raízes como se tivesse sido semeada nele, ficando de todo alheia da companhia do divino, do que é puro e de uma só forma.
84d Após um momento de silêncio, Símias então mostra-se não estar certo do argumento de Sócrates e diz que pensou em propor um questionamento, ao qual o filósofo responde: “Ora, terdes receio de eu estar agora com ânimo diferente. Pelo que vejo, considerais-me inferior aos cisnes, pois quando estes percebem que estão perto de morrer, por terem cantado a vida toda, mais vezes e melhor põem se a cantar, contentes de partirem para junto do deus de que são os servidores. Porém com seu medo característico da morte, os homens caluniam os cisnes, ao afirmarem que eles cantam por chorarem a morte, de tristeza, sem refletirem que nenhum ave canta quando tem fome ou frio, ou quando presa de outra angústia, nem mesmo o rouxinol, a andorinha ou a poupa, cujo canto, segundo dizem, serve de alimentar a dor. Porém não creio que nenhum deles cante por estarem tristes, muito menos os cisnes. Ao contrário: por pertencerem a Apolo, segundo penso, têm o dom da profecia, e por preverem as delícias do Hades, cantam e se alegram nesse dia muito mais do que antes.
Eu, de minha parte, também me considero servidor igual da divindade, como os cisnes, e a ela consagrado, e por ser dotado pelo meu senhor de não menor dom de profecia, não deixarei a vida com menos coragem do que eles. Por isso, podeis falar à vontade e formular as perguntas que entenderdes todo o tempo que o permitirem os onze cidadãos de Atenas.” Símias pergunta se a psiquê não pode ser um tipo de harmonia, comparando-a com uma música tocada por meio de uma harpa - (resumidamente) quando a harpa é destruída, perde-se a música e sua harmonia.
89d O argumento de Símias pareceu convincente para os interlocutores, mas Sócrates, pede a Fedon para evitarem a experiência de se tornarem misólogos, como outros ficam misantropos e continua o diálogo: "O que de pior pode acontecer a qualquer pessoa é tornar-se inimigo da palavra. A misologia e a misantropia têm a mesma origem. O ódio aos homens nasce do excesso de confiança sem razão de ser, quando consideramos alguém fiel, sincero e verdadeiro, e logo depois descobrimos que se trata de pessoa corrupta e desleal, e depois outra mais nas mesmas condições. Vindo isso a repetir-se várias vezes com o mesmo paciente, principalmente se se tratar de amigos íntimos e companheiros de alto crédito, depois de decepções seguidas, acaba essa pessoa por odiar os homens e acreditar que ninguém é sincero. Nunca observaste que é assim mesmo que as coisas se passam." O filósofo conclui que não é recomendável odiar os outros nem por orgulho nem por desânimo. Isto seria negar a realidade que a maioria das pessoas não são nem muito boas nem muito más; A maioria das pessoas encontra-se no meio do bem e do mal, sendo as intensas mais raras.
Sócrates diz que esse ódio pode ocorrer também em relação aos argumentos, quando uma pessoa se apega a determinado argumento e depois descobre que este é invalidado, seja por ser refutado ou por qualquer outro motivo. Algumas destas pessoas, bem como os que se acostumam com discussões contraditórias, podem acabar acreditando que não haja verdade alguma e que tudo é questão de ponto de vista; estes se tornam inimigos do conhecimento/ da palavra (misólogos).
"Assim, continuou, de início precisamos acautelar-nos contra semelhante perigo; não permitamos o ingresso em nossa psiquê da idéia de que não há nada são em nosso raciocínio; digamos, isso sim, que nós é que ainda não estamos suficientemente sãos, mas que devemos esforçar-nos para alcançar esse desiderato, tu e os demais, por causa da vida que ainda tendes pela frente; eu, por motivo, justamente, da morte. Receio muito que, neste momento em que a morte é tudo, não me haja como filósofo ou amigo da sabedoria, como se dá com os indivíduos muito ignorantes. Estes tais, quando debatem algum tema, não se preocupam absolutamente de saber como são, de fato, as coisas a respeito de que tanto discutem, senão em deixar convencidos os circunstantes de suas próprias asserções. Nisso põem todo o empenho."
Continuando, Sócrates pede para Símias e Cebes não considerarem o diálogo a seguir como uma tentativa de imposição de seus argumentos e sim para se juntarem na busca pela verdade.
92-94 Sócrates então explica à Símias, que se a alma fosse a harmonia em si, tal teoria contradiziria as reminiscências discutidas anteriormente; Ele diz que para as pessoas, a harmonia surge, ou não, seguindo os pensamentos, sentimentos, atitudes etc. Assim, a harmonia não é a causa da vida, ela está mais para uma consequência: Uma pessoa pode ter uma vida (e uma alma) harmoniosa ou desarmoniosa como consequência de suas intenções e ações, portanto a harmonia não existe na vida desarmoniosa e não pode ser a própria alma.
Mais uma vez nota-se que a construção de conhecimento proposta por Platão é prioritariamente dialética e racional; Essa racionalidade é pautada pela ética que inclui universalidade...
Fédon me pareceu um texto difícil de resumir devido ao fato de não haver partes menos importantes nele, mas seu conteúdo não é difícil de entender. Continuarei as observações num próximo texto...
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