Críton é um amigo enriquecido de Sócrates, que está inconformado com a condenação do filósofo e quer fugir com ele, mas Sócrates não mostra interesse em fugir, e sim, de aguardar sua pena de morte.
Sócrates acorda um pouco antes do amanhecer e estranha como Críton já está "o visitando em sua cela". Aparentemente o velho amigo de Sócrates já se tornou "amigo" (ou aceito) do guarda da prisão e entrara ali há um tempo.
Críton argumenta que deve ajudá-lo a sobreviver porque além de gostar de Sócrates, ele se preocupa com o que outras pessoas irão dizer, caso ele deixe o filósofo morrer por causa de um julgamento feito por seus inimigos (adversários de Sócrates, de seus aprendizes e admiradores).
Sócrates responde que não se deve levar em consideração o que as multidões pensam e dá o exemplo de um atleta que deve escutar somente a opinião de seu médico/ treinador e não do público em geral. Fica entendido que para cada assunto deve-se levar em consideração só aqueles que entendem/ estudam o tema em si e no caso de Sócrates ele indica que devem obedecer a quem entende o que é justiça. Pois viver belamente é viver com justiça então eles deveriam analisar se aguardar a pena determinada pelos atenienses é um ato justo ou injusto.
Sócrates pergunta a Críton se é certo sempre evitar ser injusto ou se é certo ser injusto às vezes. Críton responde que deve-se evitar tal ato sempre. Sócrates diz que então deve se evitar ser injusto mesmo com quem comete injustiça.
Em seguida o filósofo simula um breve diálogo com as leis, como se estas estivessem personificadas. Ele mostra que desrespeitá-las após viver conforme elas por tanto tempo, seria contraditório e ingrato por parte dele. É possível entender que Sócrates aceitava o caráter coletivo (estatal) das leis e que um indivíduo não deveria ignorá-las ou modificá-las por si só - Valeria destruir as leis e desacreditar o estado por causa de um julgamento injusto?
Nesta simulação de diálogo com as leis, Sócrates também deixa claro que manteve um certo vínculo com o estado (Atenas), pois poderia ter o deixado anteriormente com variados motivos ou alegações, mas nunca o fez. (*)
(*) Este fato está de acordo com a Apologia de Sócrates, quando o filósofo diz que andou pela cidade se intrometendo na vida dos outros e incitando a aperfeiçoarem suas psiquês porque (ele; Sócrates) é uma espécie de dádiva dos deuses (do theos e/ou daemons) para a cidade de Atenas. Isto também acaba conectando, ainda que indiretamente, ao argumento cosmogónico/ espiritual que Platão apresenta no Mito de Iros (Er) escrito no livro X (10) de "A República": De acordo com o mito, as moiras, filhas de Ananke (a necessidade), lançam "carretéis" para as almas escolherem a vida que terão, e, ao escolherem, estas teriam determinados tipos de vida como um destino, embora mantenham o livre arbítrio de suas almas (psiquês) ao "(re)encarnarem".
Críton então diz que Sócrates deveria fugir para cuidar dos seus filhos (o rico amigo do filósofo era preocupado com a criação dos filhos como é mostrado em Eutidemo: https://amorpelosabersaberamar.blogspot.com/2024/06/breves-observacoes-sobre-eutidemo-ou-da.html). Sócrates, porém, explica que não se retribui o mal com o mal e que fugir da lei seria como desprezar o estado e seus construtos que o beneficiaram ao longo da vida. Além disto ele teria que viver fugindo e se escondendo, podendo colocar os seus amigos/ familiares em perigo, a menos que optasse viver em um lugar praticamente sem leis, de uma forma que não vale a pena viver a vida. Assim, Sócrates confia que caso necessário, seus amigos cuidariam de seus filhos, pois se fariam isso após a tentativa de fuga para outra cidade, também fariam em sua partida ao “Hades” (pós vida, mundo dos mortos, das almas etc).
Críton então acaba concordando, ao menos aparentemente, com a escolha de Sócrates.
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