De 4 ou 5 conhecidos que se aprofundaram neste tema por longos minutos (ou algumas poucas horas), 4 ou 5 mostraram a opinião que "o mal prevalece sobre o bem", seja por causa da ganância por dinheiro e/ou poder ou devido a ignorância da maioria. As visões variaram um pouco, mas uma possível solução variou entre revolução ou... nenhuma solução - a "humanidade não teria solução".
Eu poderia discorrer sobre o que descobri sobre "o mal" e o bem na história das civilizações ocidentais, mas deixarei esse tema filosófico para um próximo texto.
Nos últimos 3 anos, após ler vários textos de Platão, ficou nítido que os problemas sócio econômicos que assolam a humanidade têm uma causa que envolve a (falta de) ética. Por isso tendo a crer menos que uma revolução traga grande benefícios: ao menos revoluções armadas, para mim, parecem trazer pequenos benefícios seguidos de muitas retaliações, traições etc.
Na primeira conversa sobre história da sociedade e da economia ocidental, os meus 2 interlocutores pareceram não chegar a uma conclusão, embora um pensou em uma grande revolta direta contra o sistema (capitalista) e o outro duvidou que isso fosse possível, sem apresentar uma possibilidade de mudança ou progresso social/ econômico.
Noutra conversa, com um sociólogo que trabalha com o povo de rua, lembro-me que ele falou que não vê esperança e que o ser humano não tem jeito pois nenhum sistema funciona devido ao fato deles serem impostos (colocados) de uma minoria de poderosos sobre o povo sem poder e devido a democracia (o sistema eleitoral etc) ser uma farsa pouco ou nada útil.
Apresentei para ele, não em um tom muito sério, a proposta de um governo só de profissionais e cientistas de humanas: pedagogos, sociólogos, geógrafos, psicólogos (um tanto baseado em Platão, acho eu). Ele respondeu-me que seria só mais um governo vertical imposto de cima para baixo e não via como isso poderia gerar bom resultados. Pensei a respeito após nosso papo e lembrei-me que a proposta de Platão certamente foi pensada para uma cidade/ estado, ou seja, um coletivo de pessoas muito menor do que países continentais como Brasil, Rússia, China, EUA, ou outras nações quase tão grande quanto estes (Argentina, México, Índia etc). Na verdade o governo dos filósofos, que seria um governo de poucos construtores de conhecimento pautados pela ética (valores universais: duradouros e coletivos), é uma proposta não só social, mas também individual: moral/ ética e psicológica.
Numa outra conversa, meu interlocutor geógrafo cogitou vagamente que só revoluções poderiam mudar o mundo para melhor. Falei-lhe que revoluções sem educação e conscientização humana e social, já foram feitas e alternaram entre gerar pequenos resultados e ciclos de troca de poder com conflitos mortais, sejam bélicos ou não.
Vendo os problemas atuais, penso que isto está cada vez mais nítido: a maioria dos que têm poder, principalmente poderes econômico e ideológico (religiões e economias inclusas), são abertamente antiéticos. Variam entre psicopatas, fanfarrões e sádicos: basta vermos pastores manipuladores, políticos vendilhões e empresários do agronegócio, de indústrias farmacêuticas, armamentista, de grandes mídias e empreendedores (influencers mercenários), mentindo descaradamente, usando de argumentos chulos e estúpidos com pouca ou nenhuma base nos fatos... e absolutamente sem moral ou ética.
Isso denota uma falha miserável na educação, ao menos do Brasil, mas também com certeza em outros países, incluindo um tal de Estados Unidos.
Isso denota uma falha miserável na educação, ao menos do Brasil, mas também com certeza em outros países, incluindo um tal de Estados Unidos.
O sucateamento da educação ao lado de uma mídia que não informa desde a época da tv e do rádio, gera uma maioria de pessoas sem capacidade de análise dos fatos e sem conhecimento de utilidade ética, ou seja, sem conhecimento humano, coletivo e que perpassa o tempo (histórico etc).
Lembro-me que em minha graduação de psicologia, todos professores que tentaram abordar a história da ciência e profissão tinham dificuldade de expor o assunto. Para completar, tentei fazer um trabalho de conclusão de curso abordando a história de umas poucas áreas da psicologia... e fui impedido: a professora negou-me esta possibilidade.
Pior que isso, alguns dos professores que abordaram história, reproduziram (automaticamente ou ingenuamente) discursos liberais, de "intelectuais" enviesados pela ideologia capitalista que contam só o ponto de vista do vencedor, geralmente o ponto de vista dos colonizadores que espalham desigualdade social e até guerras.
De modo geral não sabemos de onde viemos porque poucos de nós estudam história. Não sabemos o que é nação ou sociedade, porque não nos ensinam sociologia e vemos cada vez menos sobre geografia. Não sabemos que podemos aprender a dialogar com equidade, nem corrigir nossas limitações, porque quase não temos acesso à filosofia/ ética. Não sabemos quem cobrar porque não nos ensinam política...
Eu não sei se a verticalização do poder por si só é o maior de nossos dos problemas. Acho que pode ser problema quando exagerado, ou seja, quando a hierarquia social e/ ou econômica fica enorme e inquebrável para quem está submisso aos poderes. Por um outro lado, me parece que uma sociedade horizontal só é viável em pequenos coletivos... sejam como as dos indígenas da América, da África, da Oceania ou mesmo da Eurásia. Seja como a proposta talvez utópica de Platão para Atenas séculos atrás...
Como seria então uma revolução capaz de trazer uma melhoria geral da sociedade? Revoltar-se contra multimilionários, eliminando-os? Destruir tudo do sistema econômico neo liberal e implantar um socialismo? Isso já não deu errado? Implantar um anarquismo? Daria certo em que nível?
A palavra revolução pressupõe evolução... que evolução haveria sem educação? Sem uma civilização que se paute pelos valores universais da ética? Implantar uma educação conscientizadora e humana não seria uma revolução ainda que durasse poucos anos?
Talvez precisamos de algumas eventuais revoluções sim: para quebrar barreiras opressoras que nos impedem de propagarmos saberes humanos e de vivermos com equidade e ética. Porém, mais importante que isso então é o fato de que precisamos de educação... de uma construção de conhecimento equitativo com diálogo. Precisamos entender que o ganho individualista é falso, tosco e/ ou ignóbil... O individualismo é nocivo não só para o próximo e para as multidões; precisamos provar que é nocivo até mesmo para quem pratica crimes econômicos, ambientais, sociais etc...
Sim, ensinar e propagar isso deve ser muito difícil... mas precisamos.