Revolução: troca de poder, ou arrancada de desenvolvimento ético?

Em conversas sobre história da sociedade e da economia ocidental que tive com amigos e colegas nos últimos 6 ou 7 anos, percebi que as pessoas acabam caindo em algum nível de pessimismo quanto ao futuro da humanidade. 
De 4 ou 5 conhecidos que se aprofundaram neste tema por longos minutos (ou algumas poucas horas), 4 ou 5 mostraram a opinião que "o mal prevalece sobre o bem", seja por causa da ganância por dinheiro e/ou poder ou devido a ignorância da maioria. As visões variaram um pouco, mas uma possível solução variou entre revolução ou... nenhuma solução - a "humanidade não teria solução". 
Eu poderia discorrer sobre o que descobri sobre "o mal" e o bem na história das civilizações ocidentais, mas deixarei esse tema filosófico para um próximo texto.

Nos últimos 3 anos, após ler vários textos de Platão, ficou nítido que os problemas sócio econômicos que assolam a humanidade têm uma causa que envolve a (falta de) ética. Por isso tendo a crer menos que uma revolução traga grande benefícios: ao menos revoluções armadas, para mim, parecem trazer pequenos benefícios seguidos de muitas retaliações, traições etc.
Na primeira conversa sobre história da sociedade e da economia ocidental, os meus 2 interlocutores pareceram não chegar a uma conclusão, embora um pensou em uma grande revolta direta contra o sistema (capitalista) e o outro duvidou que isso fosse possível, sem apresentar uma possibilidade de mudança ou progresso social/ econômico.
Noutra conversa, com um sociólogo que trabalha com o povo de rua, lembro-me que ele falou que não vê esperança e que o ser humano não tem jeito pois nenhum sistema funciona devido ao fato deles serem impostos (colocados) de uma minoria de poderosos sobre o povo sem poder e devido a democracia (o sistema eleitoral etc) ser uma farsa pouco ou nada útil. 
Apresentei para ele, não em um tom muito sério, a proposta de um governo só de profissionais e cientistas de humanas: pedagogos, sociólogos, geógrafos, psicólogos (um tanto baseado em Platão, acho eu). Ele respondeu-me que seria só mais um governo vertical imposto de cima para baixo e não via como isso poderia gerar bom resultados. Pensei a respeito após nosso papo e lembrei-me que a proposta de Platão certamente foi pensada para uma cidade/ estado, ou seja, um coletivo de pessoas muito menor do que países continentais como Brasil, Rússia, China, EUA, ou outras nações quase tão grande quanto estes (Argentina, México, Índia etc). Na verdade o governo dos filósofos, que seria um governo de poucos construtores de conhecimento pautados pela ética (valores universais: duradouros e coletivos), é uma proposta não só social, mas também individual: moral/ ética e psicológica.
Numa outra conversa, meu interlocutor geógrafo cogitou vagamente que só revoluções poderiam mudar o mundo para melhor. Falei-lhe que revoluções sem educação e conscientização humana e social, já foram feitas e alternaram entre gerar pequenos resultados e ciclos de troca de poder com conflitos mortais, sejam bélicos ou não.

Vendo os problemas atuais, penso que isto está cada vez mais nítido: a maioria dos que têm poder, principalmente poderes econômico e ideológico (religiões e economias inclusas), são abertamente antiéticos. Variam entre psicopatas, fanfarrões e sádicos: basta vermos pastores manipuladores, políticos vendilhões e empresários do agronegócio, de indústrias farmacêuticas, armamentista, de grandes mídias e empreendedores (influencers mercenários), mentindo descaradamente, usando de argumentos chulos e estúpidos com pouca ou nenhuma base nos fatos... e absolutamente sem moral ou ética. 
 Isso denota uma falha miserável na educação, ao menos do Brasil, mas também com certeza em outros países, incluindo um tal de Estados Unidos. 
O sucateamento da educação ao lado de uma mídia que não informa desde a época da tv e do rádio, gera uma maioria de pessoas sem capacidade de análise dos fatos e sem conhecimento de utilidade ética, ou seja, sem conhecimento humano, coletivo e que perpassa o tempo (histórico etc). 
Lembro-me que em minha graduação de psicologia, todos professores que tentaram abordar a história da ciência e profissão tinham dificuldade de expor o assunto. Para completar, tentei fazer um trabalho de conclusão de curso abordando a história de umas poucas áreas da psicologia... e fui impedido: a professora negou-me esta possibilidade.
Pior que isso, alguns dos professores que abordaram história, reproduziram (automaticamente ou ingenuamente) discursos liberais, de "intelectuais" enviesados pela ideologia capitalista que contam só o ponto de vista do vencedor, geralmente o ponto de vista dos colonizadores que espalham desigualdade social e até guerras.

De modo geral não sabemos de onde viemos porque poucos de nós estudam história. Não sabemos o que é nação ou sociedade, porque não nos ensinam sociologia e vemos cada vez menos sobre geografia. Não sabemos que podemos aprender a dialogar com equidade, nem corrigir nossas limitações, porque quase não temos acesso à filosofia/ ética. Não sabemos quem cobrar porque não nos ensinam política...

Eu não sei se a verticalização do poder por si só é o maior de nossos dos problemas. Acho que pode ser problema quando exagerado, ou seja, quando a hierarquia social e/ ou econômica fica enorme e inquebrável para quem está submisso aos poderes. Por um outro lado, me parece que uma sociedade horizontal só é viável em pequenos coletivos... sejam como as dos indígenas da América, da África, da Oceania ou mesmo da Eurásia. Seja como a proposta talvez utópica de Platão para Atenas séculos atrás... 

Como seria então uma revolução capaz de trazer uma melhoria geral da sociedade? Revoltar-se contra multimilionários, eliminando-os? Destruir tudo do sistema econômico neo liberal e implantar um socialismo? Isso já não deu errado? Implantar um anarquismo? Daria certo em que nível? 
A palavra revolução pressupõe evolução... que evolução haveria sem educação? Sem uma civilização que se paute pelos valores universais da ética? Implantar uma educação conscientizadora e humana não seria uma revolução ainda que durasse poucos anos?
Talvez precisamos de algumas eventuais revoluções sim: para quebrar barreiras opressoras que nos impedem de propagarmos saberes humanos e de vivermos com equidade e ética. Porém, mais importante que isso então é o fato de que precisamos de educação... de uma construção de conhecimento equitativo com diálogo. Precisamos entender que o ganho individualista é falso, tosco e/ ou ignóbil... O individualismo é nocivo não só para o próximo e para as multidões; precisamos provar que é nocivo até mesmo para quem pratica crimes econômicos, ambientais, sociais etc... 
Sim, ensinar e propagar isso deve ser muito difícil... mas precisamos.

 

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