Amor e Constança

Escrevi este texto na segunda semana de maio - semana do "dia das mães". Isto porque me lembrei do amor e como ele é um sentimento importante apesar de parecer haver pouco consenso sobre o que ele é exatamente. No texto anterior critiquei como a psicologia deste início de século 21 ainda menospreza o amor e se submete ao viés biológico da medicina, porém aqui trato um pouco do amor na cristandade (dos ensinamentos de Jesus e seus apóstolos), e mais na relação desse sentimento tão importante com a espiritualidade e com o cotidiano... com a vida.

O amor cobre uma multitude de erros... esse ensinamento atribuído ao apóstolo Pedro, fala do amor ensinado por Jesus. O amor piedoso que faz os seres servirem uns aos outros em uma amizade universal, ou seja, sem mentiras e sem priorizar interesses individuais. Esse amor vivido sinceramente cobre uma multidão de erros porque é o ensinamento central de Jesus de amar o próximo como a si mesmo e a Deus (amar toda a vida)... 
Mas andei pensando: e ser amado por esse amor? Como é? Talvez não seja tão importante se não retribuirmos?... Mas o que esse amor de quem nos serve com tanta sinceridade nos causa? 
Senti que fui amado assim. E descobri que esse amor resiste à morte do corpo. Esse amor então é uma verdade que é quase indizível. É o que realmente vale a pena. Mas falarei essencialmente da porção desse amor perceptível aqui na vida terrestre, mesmo porque discorrer sobre o além não é necessário até o momento. 
Eu tive momentos de tristeza, irritação, dúvida etc... Mas sem dúvida, uma coisa que não esqueço é o quanto fui amado. 
Quando lembro de minha infância, lembro o quanto fui cercado por amor. Minha mamãe foi muito presente. Sempre me lembro de como sorria tão alegremente por minha causa e por causa de meus irmãos. Na verdade isso pouco mudou com o passar do tempo: era um sorriso espontâneo e sincero de um amor por nós, praticamente inabalável. Claro que isso não impediu momentos que ela ficou brava conosco e tantas outras emoções mais conflitivas, mas isso faz parte das relações humanas... 
Também me lembro da presença dos meus tios, particularmente de 2 irmãos de minha mãe, que viveram um tempo conosco quando eu era pequenino (por volta dos meus 2 anos de idade) e depois nos visitaram por anos (quase toda semana): 
Tio Hélio parecia mais fanfarrão ou talvez um brincalhão peculiar. Era meio atrapalhado e estava frequentemente ouvindo música, tomando café e fumando (essa última parte nunca me agradou, mas muitos outros familiares também fumavam). Frequentemente ria uma gargalhada emblemática e me chamava pelo meu apelido prolongando a primeira sílaba por uns segundos. 
Tio Bão foi o tio quase onipresente. Acho que ele me pôs o apelido o qual meu tio Hélio me chamava. Era o tio que levava eu e meus irmãos para passear (muitas vezes de trem) e fazia muitos brinquedos para nós: ônibus de lata, veículos de madeira, maquetes etc. Também jogava cartas (mais com mamãe), fazia bolinhos fritos para gente e me ensinou a fazer nhoque. Visitou nossa casa frequentemente por mais de 30 anos. Alguém poderia me perguntar: mas aonde esteve o amor além o de sua mãe? Como você tem certeza do amor de seus tios? Bom, eu não tenho que ter certeza disso, ao menos não racionalmente... e nem empiricamente acho eu. Não penetro pensamentos e sentimentos alheios, nem leio mentes, mas amor é sentimento para além do material, então é sentir. Sentir nós simplesmente sentimos - é mais visceral que perceber sensorialmente ou explicar com palavras. Quando pequenino, muitas vezes senti o amor; estava no ambiente, nos olhares e sorrisos e sobretudo na presença. Amar é estar presente e se fazer sentir presente. Querendo o bem, fazendo bem... amando. O amor que senti não é momentâneo como a emoção: é reconhecível e duradouro, pois também é se sentir feliz, acolhido e seguro, ainda que ameaças compreensíveis ou incompreensíveis possam existir. 
Lembro-me que minha mãe contava que vovó se esforçou muito para fazer com que ela e seus irmãos (meus vários tios e tias) permanecessem unidos ao longo dos anos. Acho que esse esforço deu certo em algum nível. Lembro que ela contava como o tio Hélio gostava de crianças e sempre se fazia presente diante delas. E lembro como ela me contou que o tio Bão visitava regularmente quase todos seus irmãos (meus tios, tias e primos). 
 O amor então parece ser presente. Viver o presente de coração com presença... ou seja com consciência. 
 O amor se faz inesquecível quando olho para esse meu passado. E quando tive medo que ele acabasse no futuro, Ele se manifestou de um modo imortal, provando-se mais absoluto que o espaço/ tempo... mas isso eu já não consigo explicar em um mero texto. 
 Se amar é estar presente e o amor provou-me sobreviver à morte do corpo, o presente independe do espaço e de nossa percepção... o que importa é viver esse amor. Quando não amamos estamos incompletos então talvez por isso Jesus centrou seus ensinamentos no amor. Talvez por isso Platão afirmou que os deuses chamam o amor de "o alado"; que nos eleva ao "além céus" (hiper ouranos)... 
Devemos nos manter presentes e conscientes... pois amor não é só gostar e nem simplesmente querer bem; ele envolve algo que nos tranquiliza... como serenidade. E algo que nos move e não nos deixa desistir... como a esperança.

Seja na memória, ou na psiquê, seja esta a alma ou a mente que não pode ser dividida nem decomposta, o amor sobrevive. 

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