Observações sobre "Sofista" (Do Ser) Pt. 2

Após "o estrangeiro" e Teeteto definirem que o sofista não tem conhecimento (verdadeiro) em si, além da retórica ou da oratória, enfim, da persuasão, eles entendem que não se deve estudar tema algum a partir das coisas que não são e sim pelas coisas que são. Isto porque os sofistas, por exemplo, com sua ênfase na persuasão, priorizam esta técnica de convencer os demais acima de qualquer conhecimento, como demonstrado também em outros diálogos (Górgias etc). Por causa desta priorização, ao tentar definir um sofista, os interlocutores repetidamente descobriram coisas que os sofistas não são.

A partir daí eles começam estudar teoria de filósofos anteriores, inicialmente de Parmênides, e discutem o que é o "pan" (traduzido tanto como "o todo", como o universo; certamente porque consideravam o universo como o todo, ou o conceito de "tudo"), para então traçarem a relação entre a unidade e o ser.*

*Neste trecho, o tradutor Edson Bini, destaca que o termo "eimi" utilizado por Platão, significava tanto existir como ser. Isto porque não havia essa separação entre esses significados durante a "Grécia clássica", como houve, por exemplo, na Alemanha séculos depois.

A teoria de Parmênides apresenta certa complexidade ao centrar na idéia de que o universo é uno e absoluto, e no diálogo parece surgir uma dúvida entre os interlocutores de como algo pode ser uno e também composto por partes. O termo "uno" parece intercambiável, ou seja, passível de ser sinônimo de "um", e assim, "um" pode se referir à unidade de modo mais matemático e palpável, mas também poderia se referir ao conceito de totalidade, de completo, (um conceito ontológico) de absoluto, ou seja, pan - o todo, como mencionado anteriormente. 
O estrangeiro então diz que é necessário investigar a teoria daqueles que consideram que somente os corpos palpáveis (materiais) são (as coisas que são), possivelmente se referindo a Leucipo e Demócrito de Abdera. O estrangeiro diz que geralmente é difícil argumentar com tais filósofos, pois eles tendem arrastar tudo para a matéria/ os corpos e rispidamente desprezarem outras coisas. Ele então indica uma imprecisão nesta teoria ao questionar que, para "os filhos nascidos dos dentes do dragão"*, a justiça, a sabedoria e seus contrários são alguma coisa. Porém estas coisas sendo algo, contradiziria a teoria dos próprios materialistas, já que elas (justiça etc) não são palpáveis ou corpóreas. Para manter um diálogo entre estas coisas incorpóreas com as corpóreas, o estrangeiro diz que sugeriria que "o ser" é potência (dynamis). Isto porque tudo que possui potência para produzir uma mudança em algo de qualquer natureza, ou para sofrer o efeito da mais ligeira causa no mais ínfimo grau, é (existe).

*Platão compara os "materialistas" com os personagens telúricos do mito de Cadmos;

O filósofo então investiga uma terceira teoria sobre o ser/ existir: A dos "amigos das formas (ideias)"*. Estes distinguem o "ser" do "vir a ser", considerando que do primeiro (ser) que é imutável, os seres participam com a alma (psiquê) e seus pensamentos, enquanto do segundo (vir a ser) que varia no tempo, os seres participam com a percepção e seus corpos. O "vir a ser" então participa na potência (dynamis) de atuar e de sofrer ação, porém estas coisas não estão associadas ao "ser". 
Isto porque o "ser" é acessado pela psiquê que é cognoscente, ou seja, tem a capacidade de conhecer. 
O ser (verdadeiro) por sua vez, é o que é conhecido. Desta forma o "vir a ser" ficaria ligado ao que varia no tempo, ou seja, o movimento e o "ser" ficaria vinculado ao repouso. A psiquê com sua capacidade de conhecer faria uma possível ponte, pois existiria no corpo (que varia no tempo, no movimento...) e acessaria o verdadeiro "ser" que é o repouso, o imutável...
Aí surge a dúvida (questionamento) dos interlocutores: Se o conhecer difere do conhecido, poderia um participar do outro ou não? A princípio os interlocutores deduzem que não, pois são coisas diferentes entre si. Porém separar o que tem capacidade de conhecer do que é conhecido incluiria separar a vida, a alma e a inteligência do ser. Eles concluem que seria irracional o movimento, a vida, a alma e a inteligência não participarem do que absolutamente é.

*Esta teoria ("das formas", traduzido de "eidon") parece diferir do entendimento de Platão, por separar o ser/ o verdadeiro existir do movimento, da vida etc...

Assim, após analisar as 3 teorias, ficou entendido que o movimento deve participar do "ser" e do "vir a ser". Porém, afirmar que absolutamente tudo está em movimento ou que tudo é movimento seriam erros, pois há a necessidade de repouso para que haja identidade de qualidade, de natureza e das relações.
Havendo movimento e repouso, o estrangeiro conclui que também é preciso recusar o argumento de que tudo está em repouso ou de que tudo é repouso.
A seguir, os interlocutores identificam duas categorias de fenômenos: o repouso e o movimento que são contrários entre si. Porém seria uma imprecisão afirmar que o repouso e o movimento existindo/ sendo algo, poderiam ser simultaneamente (em conjunto concentrado com o ser). Por consequência, o ser/ o existir seria uma terceira coisa, além do movimento e do repouso e não absolutamente um ou outro e nem ambos mesclados.
O estrangeiro e Teeteto entendem que mesclar todas as coisas seria absurdo, assim como afirmar que nada se mescla também seria. Então eles concluem que algumas coisas poderiam se mesclar, a exemplo das letras cujas algumas podem ser combinadas para se pronunciar sílabas e palavras, enquanto outras não podem, pois suas combinações seriam impronunciáveis. Esta mesma lei de que algumas coisas são mescláveis e outras não, se aplicaria para várias outras coisas como entre sons graves e agudos para a formação da música etc... Tal divisão das coisas (formas, idéias) por gêneros seria objeto de estudo da ciência (epistimin) da dialética, que por sua vez, é estudada pelo filósofo (a pessoa mais indicada para estudar a divisão das coisas por classes ou gêneros).

Platão propõe investigar os fenômenos pelas suas relações - se são combináveis ou não e mais outras  categorias que o filósofo citará adiante na obra; Há alguma semelhança com a Teoria Geral dos Sistemas neste assunto: Ao invés de estudar com base no método sensorial e reprodutível e na mera divisão (redução) das partes, A Teoria Geral dos Sistemas indica a importância de se considerar e investigar as relações entre os objetos de estudo: Relações de mudança; Relações de repetições / padrões; Relações de transcendência (entre sistemas, onde um sistema vai para além de si de encontro a outro sistema). 

Após as 3 categorias serem definidas (repouso, movimento e o ser/ existir), o Estrangeiro identifica mais duas: o idêntico e o diferente, isso definiria as classes (*) anteriores. Em seguida começa a parte possivelmente mais complexa do diálogo, onde os interlocutores discutem a relação e a diferença entre estas classes/ formas/ ideias (eidos). 

*Na tradução de Edson Bini, a palavra "classe" é sinônimo de eidos (ideia e forma);

O diálogo sobre as relações entre o movimento, o repouso, o ser, o idêntico e o diferente pode parecer enfadonho ou peculiar para muita gente, mas ele trata de um ponto importante na construção do conhecimento que parece ter sido ofuscado ao longo da história, particularmente após os estudos de René Descartes no século 16 e a reação empirista a tais estudos, principalmente por parte dos filósofos britânicos. 
Apesar de peculiar, apresento um resumo do diálogo com minhas próprias palavras a seguir, pois não estou disposto a buscar uma versão digital do texto de Platão para copiar e colar aqui. Por esta razão eu recomendaria todos que dizem estar interessados na construção de conhecimento (ciência inclusa aqui) a lerem este texto de Platão... Porém também entendo que a maioria das pessoas (seja na "academia" ou em qualquer outro ambiente) é cheia de certezas e não tem a postura da presunção da ignorância necessária para levar tais estudos à sério e com ética... Eis um dos motivos pelo qual a ciência ainda parece predominantemente uma religião materialista/ niilista (e geralmente ateísta) em oposição às todas religiões e à toda espiritualidade.
Além disto, ler Sofista sem ler outras obras essenciais de Platão como "A República" (entre outras), me pareceria uma sugestão meio "torta".

Teeteto e o Estrangeiro então discutem como o "não grande" não é necessariamente oposto ao grande, pois não precisa se referir ao "menor tamanho possível". Tal termo somente indica que algo não é grande, podendo ser de uma outra variedade de tamanhos. O mesmo então vale para todas outras palavras e definições do mesmo tipo e por isso o Estrangeiro parte para explicar o "não ser". Tal definição não se refere ao oposto de ser/ existir e apenas indica que algo não é uma determinada coisa. Assim, os interlocutores provam que mesmo o "não ser" participa do "ser". 

Neste ponto do texto, Platão indica que as teorias de que tudo está em movimento constante (de Heráclito, Protágoras etc), de que só a matéria existe/ é (de Leucipo, Demócrito...), de que o não ser é completamente apartado do ser (de Parmênides) e dos "amigos das ideias" (mentalistas, cujos autores são incertos ou desconhecidos), estão erradas ao serem propostas como verdades absolutas. Este parece um ponto chave em que Platão, a partir de filósofos anteriores, constrói a filosofia ocidental, ou ao menos, sua raiz e cerne. 

Seguindo a lógica de que as coisas que "não são" participam do "ser"/existir, os interlocutores entendem que encontraram o que buscavam ao tentar definir o sofista (no início do diálogo, o qual abordo neste texto: https://amorpelosabersaberamar.blogspot.com/2024/02/breves-observacoes-sobre-sofista-do-ser.html). 
Todos os 4 gêneros/ classes diferentes do ser, participam do não ser, pois o gênero do diferente permeia/ toca todos eles (afinal são gêneros com diferenças entre si: ser/ existir não é sinônimo de movimento, de repouso, de idêntico nem de diferente). O ser (certamente mais absoluto) então difere de todos os outros gêneros, mas os toca pelo fato de tais gêneros serem idênticos a eles próprios. (eles são idênticos a eles mesmos, ou existem idênticos a eles mesmos). Assim o ser é identificado como múltiplo e o "não ser" é identificado como infinito em número/ quantidade. Estas reflexões incomuns podem parecer dúbias, mas não deixam de ser  uma utilização da lógica voltada à construção de conhecimento, particularmente o conhecimento da filosofia "ocidental" em sua estrutura básica/ raiz.
Os interlocutores seguem o diálogo indicando que a classe/ eidos do diferente é toda fragmentada como o conhecimento (episteme, ciência), pois o conhecimento tem várias áreas de estudo diferentes entre si.
A beleza (kalos) então participa do ser/ existir e existem coisas "não-belas" também. Porém o não-belo, sendo diferente do belo, apresenta alguma oposição ao ser e ainda assim não existe um "não ser" absoluto. O não ser em sua infinitude não é absolutamente o oposto do ser, pois é alguma coisa, portanto participa do ser.
Platão admite que tal discussão pode ser distorcida por oradores e outros indivíduos (como os típicos sofistas, por exemplo) que priorizam a manipulação das palavras e da linguagem para algum benefício próprio etc... Um exemplo desta manipulação seria separar as classes/ gêneros/ eidos mencionadas pelo filósofo (negar suas relações/ intersecções que ocorrem entre algumas delas). O personagem nomeado de "estrangeiro" mostrado pelo autor então, diz que a tentativa de separar tudo de tudo é não só um sinal de mau gosto, mas mostra que a pessoa que faz tal coisa é inculta(*) e não-filosófica.

(*) Traduzido de aymoysoy, ou seja "amusical", não limitado ao que entendemos como música atualmente, mas no sentido de "estranha às musas", ou seja, estranho às entidades associadas à inspiração, às artes e aos conhecimentos na cultura helênica (grega) da época de Platão e anteriormente. Certamente isto tinha uma importância na cultura da "Grécia clássica", mais ou menos como hoje entendemos a importância de temas como a inclusão (social, étnica etc), a empatia, enfim a ética, afinal a proposta de filosofia de Platão tem finalidade de melhoria individual (no que se refere à psiquê) e coletiva (no que se refere à pólis, a cidade, ao estado, enfim o social).
 
O estrangeiro então aponta que o "não ser" mescla-se com a opinião e com o discurso, e, por causa disto existe a opinião falsa e o discurso falso, a região repleta de cópias, semelhanças e phantasias(*), onde geralmente os sofistas se refugiam. Ele cita brevemente a produção de cópias e a arte da imaginação, descartando-as para investigar o discurso, as "phantasias" e a opinião.
Para desmentir os típicos discursos/ argumentos dos sofistas, que manipulam a narrativa para alcançar seus objetivos particulares ignorando a verdade, os interlocutores concluem que é preciso analisar e desconstruir tais construções (as falácias, mentiras etc) para só então expor o charlatão (sofista). 

 (*) Edson Bini traduz como "aparições" ao invés de fantasias, explicando que os gregos da época de Platão, consideravam nesta categoria tudo que aparece e parece ser, desde a imaginação até a percepção sensorial; Esta última é referente ao "mundo sensível" colocado claramente como menos real do que a "realidade cognoscível" por Platão em obras como "A República".

Após discorrerem sobre o logon (discurso ou sentenças) e sua formação por verbos e sujeitos, o estrangeiro indica que tanto o pensamento, como a opinião e as aparições ocorrem na psiquê de cada indivíduo. Ele explica que pensamento e discurso são idênticos, exceto pelo fato que o pensamento ocorre interiormente em silêncio, na psiquê, enquanto o discurso é exposto pelo "fluxo sonoro" vocalizado pelo corpo (cordas vocais, língua, dentes, boca etc). 

A partir daí, os interlocutores observam que há afirmação e negação nos discursos e que quando essas (afirmações e negações) surgem interiormente na psiquê do indivíduo, elas devem ser chamadas de opinião. Este mesmo estado (de afirmar ou de negar) pode ocorrer por uma experiência não interior exclusivamente por si mesma, mas também através da sensação (do sensorial, a partir da experiência com o externo, além de si mesmo). Este último caso, o estrangeiro chama de "phantasia" (aparição, "fantasia" e termos similares/ equivalentes).

 Aqui parece uma prova de que a palavra "phantasia" era empregada não exclusivamente como fantasia (psíquica, imaginativa e afins), mas também como a imagem mental/ interna que o indivíduo tem a partir das experiências sensoriais cotidianas. 

Assim o pensamento é um diálogo consigo mesmo, a opinião uma conclusão deste tipo de atividade e a expressão "parece" (phainetai) é a mistura da sensação citada anteriormente (sensorial) com a opinião. Como todos esses elementos participam do discurso, eventualmente alguns deles podem ser falsos e daí surgiriam a falsa opinião e o falso discurso.
O estrangeiro então retoma os 2 gêneros de produção de cópias e da imaginação, pois agora está comprovado que a falsidade não é sinônimo de inexistência, pois é/ existe. Por causa disso a imitação "das coisas que são" é possível e aí pode surgir o engano.
Ele relembra que no início do diálogo, havia classificado o sofista como pertencente da arte aquisitiva (da competição, caça, comércio etc) e agora o sofista foi incluído na arte imitativa. A arte imitativa faz parte da arte produtiva (poitikin), mas não que produz as coisas próprias e sim imitações.
O estrangeiro então explica que há duas partes das artes produtivas: a humana e a divina; Teeteto estranha tal definição e o estrangeiro explica a seguir:
Ele lembra que para refutar os materialistas e os adeptos de que tudo que existe está em constante movimento, havia proposto a potência que é a causa do "vir a ser". Isto explica porque todos os astros, toda a vida e todo material que compõe a Terra foram gerados (em determinados pontos no tempo). Todas estas coisas seriam obra de um Theo (deus) que "não foi antes"(*) de acordo com o estrangeiro que, em seguida, pergunta se Teeteto crê que todas as coisas foram geradas por uma causa espontânea (automátes) destituída de inteligência criadora, ou se foram criadas pela inteligência divina de um deus (**). Teeteto fica em dúvida, mas afirma escolher a alternativa de que tudo foi criado por uma inteligência divina, um deus arquiteto "que não foi antes", porque parece ser a linha de pensamento do estrangeiro.

(*) Ou seja, a origem de todas essas coisas é algo além do "vir a ser" e do tempo, ou, pelo menos além do tempo linear, se é que o tempo é realmente linear. 
(**) Theoi demiurgontos, possivelmente aludindo ao deus-arquiteto, ou demiurgo, mas também similar a nous, a inteligência divina citada em Filebo.

A arte produtiva então, que estava dividida em criativa e imitativa, agora foi dividida em divina e humana também, resultando em 4 partes.
Os produtos da arte criativa divina os resultados foram comentados anteriormente (a vida, os astros e seus respectivos elementos...), porém como obras da arte imitativa divina (aqui o autor parece usar o termo referente a daemon e não a theoi), o estrangeiro classifica os sonhos e as visões bidimensionais como as sombras e as imagens refletidas. Já da arte humana, são trazidos o exemplo da construção de casas como arte criadora e da pintura como arte imitadora (exemplos já mencionados em outras obras de Platão). Teeteto então afirma estar claro que há uma arte da criação das coisas em si e uma arte que produz coisas semelhantes. O estrangeiro diz que a imaginação também pode ser dividida em duas categorias, sendo uma delas a imitativa, onde, por exemplo, uma pessoa utilizando seu próprio corpo tenta imitar outra (através da voz, da fala, do jeito de se mover etc).
Estas artes imitativas então, também podem ser divididas em duas categorias de acordo com o estrangeiro: Imitar uma pessoa é uma arte que se baseia no conhecimento do qual o imitador tem de seu alvo (observado, estudado etc). Já, por exemplo, as pessoas que tentam por suas próprias opiniões sobre a justiça e as virtudes, ignorando a primeira ou nunca experimentando as segundas, não se baseiam em conhecimento algum. O estrangeiro diz que por uma negligência relativa a divisão de gêneros, os antigos pensadores nunca realizaram tais classificações ou nomeações, então ele propõe duas nomeações para os 2 tipos de imitações; a opiniática (doxomimitikín) e a baseada em "ciência" (ou conhecimento) histórica (epistémis istorikín mímisin).
Entre os imitadores opiniáticos haveriam os francos (haployn) e os dissimulados (eironikon, palavra que provavelmente deu origem a "irônico"). De acordo com o estrangeiro, os primeiros seriam tolos que realmente pensam conhecer o que imitam, já os últimos suspeitam não conhecer, mas devido a aspereza (*) de muitas discussões, simulam conhecer as coisas diante o público.

(*) Aqui o termo "aspereza" certamente se refere a muitas interações insensíveis, rudes e/ ou competitivas, tanto que a palavra eironikon sugere possivelmente não só dissimulação (eiron), mas disputa de ignorância, tentativa de vencer (nikon) por dissimulações. 

O estrangeiro pergunta a Teeteto se estes dissimulados que agem publicamente devem ser chamados de político ou de orador popular (demologikon), ao que o jovem responde a segunda opção.
Na sequência, o estrangeiro pergunta se os que agem particularmente (de modo mais privado) devem ser chamados de sábios (sófon) ou de sofistas. Teeteto diz que não se deve chamar de sábios já que são ignorantes, mas como imitam o sábio, devem ser adequadamente chamados de sofistas.

Vale notar que nesta obra Platão não está somente discutindo o que existe e o que não existe; ele trabalha a construção de conhecimento racionalista baseada na ética para investigar e refutar os sofistas, ou uma determinada classe de "profissionais" ao qual ele denominou de sofistas. Embora o diálogo em "Sofista" possa parecer uma discussão ontológica em significante parte da obra, como alguns também consideram que ocorre em suas obras Filebo e Crátilo por exemplo, o que temos aqui é a filosofia em si, uma construção de conhecimento que discutiu autores anteriores e contemporâneos (citados no texto) de Platão. sem se fechar a um tema isolado/ específico.
Esta classificação sobre o que é ontologia, separada de outros temas da filosofia, como teleologia (etc) foi feita por autores posteriores a Platão; Há quem diga que Aristóteles iniciou tais estudos e classificações, porém, sobre este assunto, eu detectei outros autores mais recentes da época do iluminismo em diante... 
Independentemente do que esses autores posteriores a Platão entenderam de sua obra, eu considero que estes diálogos que menciono aqui (Sofista, Filebo, Crátilo) não se limitam à ontologia e que o trabalho do filósofo como um todo, é uma obra completa - Exceto por algumas poucas limitações de sua época e cultura (como o lidar com a escravidão e com a pena de morte, por exemplo), sua obra não apresenta falhas significantes ou lacunas a serem completadas ou reinterpretadas por autores posteriores.

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