Reflexões sobre Psiquê e Tempo; um esboço

Nas 3 primeiras décadas do século passado, a teoria da relatividade revolucionou não só a física, como possibilitou uma nova visão do universo: As teorias iluministas de Isaac Newton foram predominantemente superadas: o espaço e o tempo já não são separados entre si nem são absolutos, pois passaram a ser entendidos como vinculados um ao outro e relativos - apenas a velocidade da luz é absoluta. Além disto o espaço não é meramente composto por três dimensões (os clássicos eixos x, y e z), porque a explicação do espaço-tempo na teoria da relatividade se apoia na 4ª dimensão (calculada por Hermann Minkowski, e talvez por alguns cientistas antes dele). 

A gravidade já não deve ser mais entendida como uma força que puxa os corpos em sua direção; é o "espaço" que empurra os corpos. Assim, de certo modo, parece que tudo é movido por forças mais leves e mais integradas/ unas. 

Apesar dos avanços sobre o entendimento da realidade que nos cerca, possivelmente as explicações da teoria da relatividade ainda parecem complicadas e até exóticas para muita gente. 

Como assim, o espaço e o tempo não são absolutos? O que há além do espaço que nos cerca? Como não há uma força puxando a gente para o centro da Terra? Como pode haver algo empurrando os corpos ao invés de haver uma força puxando eles?

Como psicólogo em formação e designer, além de historiador amador, eu só posso buscar uma resposta mais filosófica sobre estas dúvidas. Não acho que a filosofia seja desprezível, longe disso: Ela nos permite buscar entender os fatos com o raciocínio, comparações e reflexões, ao invés de buscar evidências "materiais". Então o que posso dizer sobre o espaço-tempo e sobre a "gravidade não puxar" os corpos é o seguinte: Isto parece ocorrer porque o maior cerca e vai além do que é menor: A 4ª dimensão cerca e vai além da 3ª dimensão. O universo tridimensional é mais rústico e faz parte/ está inserido no quadridimensional. Bem como as sombras e imagens refletidas (bidimensionais) são fenômenos inseridos no/ parte do universo tridimensional, e não, o contrário disto. Estas devem ser características da lei natural de todas dimensões, portanto não se limitam só às forças perceptíveis pelos nosso 5 sentidos, afinal o tempo não é percebido por eles e sim por nossos processos cognitivos/ psíquicos: Nós percebemos o tempo, mesmo de olhos fechados, surdos e/ou sem utilizar tato, paladar e olfato. Nossa psiquê, seja mente ou alma, é o que há de mais sutil em nós, seres humanos: sentimentos e pensamentos devem interagir com o tempo/ com a 4ª dimensão - E entre os sentimentos, os mais leves são superiores, mais sublimes: o sentimento puro, por exemplo o amor mais puro, não deseja nada em troca: não deseja luxo nem prazeres, não oprime, nem se vinga (etc). Já o sentimento ruim pode ser comparado com movimentos de constrição, divisão, fragmentação, contração... São movimentos mais destrutivos, desagregadores, enquanto o sentimento positivo pode ser comparado com movimentos de expansão, união, integração, restauração, criação etc. É óbvio que durante a vida humana, nem tudo pode ser sentimentos positivos; dificuldades existem e às vezes sentimentos negativos devem ser expressos como parte de um processo que é viver. Mas também é óbvio que ninguém prefere uma vida com a predominância de sentimentos e emoções negativas: todos preferem os positivos, apesar de toda variância deles. Nesta comparação, a "superioridade" de determinados sentimentos (os positivos) não é linear, nem é constritiva, e sim, expansiva, libertadora e esperançosa. É mais verdadeira pois é mais universal por ser equivalente e comparável à 4ª dimensão: "cerca" (de permear, envolver sem pressionar ou contrair) e vai além (aumenta ou move-se possivelmente expandindo, como se fosse rumo a uma 5ª dimensão). 

O movimento do "universo 3d" simula isto, o que dá a impressão de expansão cósmica (ou "Big Bang"), mas os corpos tridimensionais não rompem o tecido/ curvatura espaço tempo rumo à 4ª dimensão: Considerando que o tempo seja a 4ª dimensão, e considerando a explicação da mente feita por Henry Bérgson, só nossos processos mentais/ psíquicos (como memória, sentimento etc) alcançam/ encontram-se com a 4ª dimensão como já mencionei. Isto faz sentido, já que os processos mentais (forças mais leves/ mais essenciais) não são percebidos sensorialmente, apesar de interagirem com nossos corpos nos processos psicossomáticos. 

A curvatura espaço-tempo, se é que este é o nome mais preciso, pode ser a forma do universo tridimensional, auto-contida como uma "esfera" "dentro" da 4ª dimensão (este é um exemplo hipotético, como mostrado no episódio 10 da série "Cosmos: A Personal Voyage"). Mas como o espaço empurra os corpos no universo tridimensional? Algo impalpável e indetectável move corpos perceptíveis? Seria isto distorção do espaço-tempo? Ou seriam campos? Se forem campos, são eletromagnéticos? Afinal todo corpo parece ter um campo eletromagnético, assim como todo átomo de todos os corpos tem um campo deste tipo. Neste quesito é preciso compreender a física e eu não me aprofundarei neste tema...

Fato é que não só os átomos dos corpos têm campos eletromagnéticos, mas os órgãos dos corpos dos seres vivos também têm. Ao menos alguns órgãos têm, como por exemplo, o cérebro e o coração. Estes campos não são obras do acaso e têm finalidade, interagindo com os corpos e trocando informações entre os órgãos e seus respectivos campos. Tais campos são naturalmente mais sutis do que os corpos em si: Em condições "normais" eles não são percebidos pelos sentidos humanos como o tato, paladar, olfato, audição e visão. Os campos eletromagnéticos dos órgãos do corpo humano são tão sutis que só foram descobertos entre 1960 e 1970, anos depois da descoberta de diversos outros campos eletromagnéticos. Os processos psico-emocionais do ser humano são transmitidos através de sinapses (sinais eletroquímicos no sistema nervoso do corpo) e também através dos campos eletromagnéticos dos órgãos. Mas tais fenômenos só passaram a ser estudados após 1990 e ainda existem dúvidas de como funciona a relação entre o não percebido sensorialmente (sentimentos, pensamentos, memória, cognição etc) e o que é percebido sensorialmente (o corpo, seus órgãos, fluídos, movimentos etc). 

Voltando à realidade em nosso entorno, a 4ª dimensão, mesmo provada matematicamente, também não é percebida sensorialmente pelo ser humano, ao menos não normalmente. Seria então o campo, como o eletromagnético, a força mais sutil que conecta a 3ª dimensão com a 4ª? Assim, os sentimentos mais puros alcançariam esta dimensão mais absoluta (a 4ª), onde nota-se forças mais leves, mais sutis, mais puras, como a luz (por exemplo), cuja tem a velocidade absoluta, diferentemente da relatividade do espaço... Mas se o tempo for a 4ª dimensão em si, os pensamentos, sentimentos, memória e outros processos mentais (psico-emocionais), já não entram em contato frequente com ela? Ou o tempo seria a porção mais sutil do espaço, não sendo percebido sensorialmente, mas só psiquicamente? Estas últimas observações indicam que a teoria da relatividade de Einstein não contraria em nada a explicação da mente de Bergson, mas ainda há algumas lacunas que talvez sejam descobertas por estudos transdisciplinares entre física e neurologia... Na verdade, se tratando dos campos eletromagnéticos do cérebro e do coração, existem coisas para serem descobertas na relação entre psicologia e física, porém considerando a opinião predominantemente materialista no meio acadêmico/ científico, a física vai ter que colocar a neurologia em seu devido lugar antes de alguém conseguir fazer estudos entre a psicologia e a física. Particularmente, já pensei brevemente em atuar nessas áreas intermediárias, mas antes temos muitos problemas éticos na sociedade: O próprio materialismo da academia indica não só que existem muitos cientistas presos a uma mentalidade dos séculos 17, 18 e 19, mas que há algo incentivando esse tipo de opinião extremista entre os estudiosos na nossa sociedade. E um dos possíveis motivos por trás disto é a utilização de uma opinião contrária ao materialismo para manipular massas e propagar obscurantismo: O fundamentalismo religioso usa argumentos supostamente espirituais para deixar multidões em estado de ignorância, paranoia, medo, intolerância etc (não que os líderes destas religiões realmente acreditem em espíritos ou em Deus). 

Enquanto houver extremismo nas relações humanas, certos temas humanos ficam realmente difíceis de se debater e esclarecer. Parece que nossa psiquê, seja cognição, mente ou alma, tem que evoluir não só racionalmente, mas também eticamente e empaticamente... para explicarmos sobre psiquê e as possíveis forças que se relacionam com ela.

 

Observações sobre Fedro (sobre O Belo)

 

 Este diálogo aborda uma ampla variedade de assuntos, entre eles: O desejo erótico, o desejo pelo bem universal, os estados alterados da mente (ou “loucuras”), a experiência transcendente ou mística, o conceito de daemons (semi-deuses, espíritos etc), o auto-controle, a força de vontade (parábola da biga ou parelha) e o conceito de hyper-ouranos (o além céus, reino dos deuses, do bem, da virtude). 

No início da história, o jovem Fedro (Phaedrus) e Sócrates estão caminhando pelo ermo, afastados da área urbana de Atenas. Ao pararem em um determinado ponto, Fedro lê um texto de Lísis sobre Eros (a paixão, o amor sensual) para Sócrates. 

Sócrates então faz um tipo de breve oração, pedindo para que as musas do local (espíritos, no caso, ninfas) o inspirem a trazer a sabedoria sobre o assunto em pauta. Após realizar o discurso sobre o tema, Sócrates muda de ideia e começa um novo discurso (desta vez, alegando que foi inspirado por seu espírito guia): 

…"Eu disse uma mentira ao afirmar que o amado deveria aceitar o não-amante quando poderia ter o amante, porque o primeiro é são e o segundo é louco. Poderia ser assim se a loucura (mania) fosse simplesmente um mal; mas há também uma loucura que é um dom divino e a fonte das maiores bênçãos concedidas aos homens. Pois a profecia é uma loucura, e a profetisa em Delfos e as sacerdotisas em Dodona, quando fora de seus sentidos, conferiram grandes benefícios à Hélade ("Grécia"), tanto na vida pública quanto privada, mas quando em seus sentidos (juízo) pouco ou nada conferiram. E também posso contar como a Sibila e outras pessoas inspiradas (em transes proféticos) deram a muitos uma insinuação (noção ou orientação) do futuro que os salvaram/ os levaram à felicidade, mas seria tedioso discursar o que todos sabem."

Neste trecho Sócrates explica que as profetizas (ou profetas) da cultura helênica de seu tempo (século 4 a.C.), ajudaram pessoas, ou a sociedade de modo geral, regularmente ou frequentemente. Entende-se que as profetizas da Grécia antiga e/ ou clássica, davam orientações ou insinuavam sobre um futuro próximo, dando aos seus "ouvintes", uma noção do que se fazer ou insinuavam o que estava prestes a acontecer em determinado momento. O filósofo destaca que as profetas faziam isto "fora de seus sentidos", tomadas por um tipo de "loucura" (mania), ou seja, em um estado alterado da mente. Sócrates continua:

"Haverá mais razão em apelar para os antigos inventores de nomes, que nunca teriam relacionado a profecia (mantike), que prediz o futuro e é a mais nobre das artes, com a loucura (manike)*, ou chamado ambas pelo mesmo nome, se tivessem considerado a loucura uma desgraça ou desonra;- eles devem ter pensado que havia uma loucura inspirada que era uma coisa nobre; pois as duas palavras, mantike e manike, são realmente as mesmas, e a letra t é apenas uma inserção atual e de mau gosto."

*As palavras mania, maníaco e manicômio têm a mesma origem das palavras mancia, ou mântica - Platão (e Sócrates) deixam claro que estas palavras referiam-se aos "estados alterados da mente", seja inspiração, êxtase, transe ou outro estado, podendo ou não, fazer contato com os "deuses" ou daemons/ espíritos de uma outra realidade. 

Sócrates considerou de mau gosto, a invenção da palavra mantike, separando-a de manike, porque não via isto como uma tentativa justa de explicar ou detalhar os estados alterados da mente, e sim, como uma tentativa de acusar certas práticas de "loucura" (inspiração, profecia, êxtase etc) no sentido pejorativo, tornando aceitável somente uma ou outra prática de adivinhação, de magia ou de profecia. Como exemplo disto, ele diz que algumas pessoas tentaram propagar a ideia de que só a adivinhação através do sacrifício animal (e "leitura" de suas entranhas) era válida. 

Hoje, neste início de século 21, entende-se que mania refere-se a um comportamento estranho, seja de repetição ou de obsessão, enfim, uma dificuldade psicológica. Já a palavra mancia, cada vez menos conhecida com o passar do tempo, refere-se à adivinhação e à magia. Na verdade tal entendimento destas duas palavras deve ser assim, no mínimo, desde a renascença (século 15) ou desde o iluminismo (séculos 17-18).

Ao invés de separar as práticas divinatórias, Sócrates indica que existe uma loucura erótica - a paixão pelos corpos, e portanto de teor mais sexual, e outra loucura inspirada pelos deuses (pelo divino, pelos bons espíritos etc). Esta última seria a mais bela, pois faria com que o indivíduo inspirado identificasse nas pessoas (como nos jovens, por exemplo) a beleza como um atributo divino, mas esta identificação poderia ser controlada com temperança, suprimindo os desejos sexuais em prol de uma relação mais mental, de amizade, de troca de ideias e geração de sabedoria/ conhecimento. Sócrates explica que isto pode ocorrer devido ao fato de, nós, seres humanos, termos uma força mais bruta e uma força mais pura em nossa psique (mente, alma), as quais ele compara com dois cavalos puxando uma biga. O cavalo mais bruto é típico da Terra, sendo voltado à selvageria, aos excessos e ao mau. Enquanto o cavalo mais puro é mais próximo da raça dos deuses, podendo alcançar os céus (o céu “além”, Hyper Ouranos, possivelmente o Aether da mitologia/ dos mitos) através da justiça e da temperança (do bem), ou seja, é a força capaz de fazer o ser humano acessar a morada dos deuses. Cabe ao ser humano, sendo o “condutor da biga” (de sua alma), escolher o bem ao invés do mal. 

 


 Durante a explicação, Sócrates mostra uma cosmogonia diferente da apresentada na mitologia popular da Grécia dominante até a época dos filósofos pré-socráticos. Possivelmente isto explica o “mundo das ideias” (de eidos) que não é exclusivamente da mente individual abstrata - é também uma realidade espiritual acessada não só pela psique (alma/ mente), mas pelos espíritos/ gênios, semi-deuses etc (originalmente daemons na língua grega). 

Possivelmente a palavra ídolo vem eidolon, que por sua vez é oriunda de eidos. Isto explicaria o porque afirmar que xamãs de determinadas culturas tinham esculturas de um "ídolo". O "ídolo" do xamã (ou de outro "praticante de magia") se refere a um ser espiritual invocado ou contatado pelo mesmo através de um estado alterado da mente. Este estado alterado da mente seria chamado de manike (mania) na "Grécia" antes da época de Sócrates, porém já durante sua vida, tal estado passou a ser separado entre manike (mania) e mantike (mancia), como explicado anteriormente.

Sócrates afirma que a alma é imortal devido ao fato de estar sempre em movimento (até mesmo no sono há atividade, sendo os sonhos um sinal disto), não tendo um repouso como o corpo tem. E continua a explicação cosmogônica para falar da alma: 

“Passaremos agora a examinar a causa da alma perder suas asas. É algo aproximadamente como segue: A função natural das asas é se erguerem para o alto carregando o que é pesado ao lugar onde a raça dos deuses habita. Mais do que qualquer outra coisa que pertence ao corpo, elas participam da natureza do divino. O divino encerra beleza, sabedoria, bondade e todas as demais qualidades a essas semelhantes. São essas qualidades que nutrem e fazem crescer as asas da alma, enquanto as opostas, como a vileza e o vício, fazem-nas encolher e desaparecer. Bem, o grande condutor (de biga, guia) no céu, Zeus que conduz uma biga alada, se move na dianteira, organizando todas as coisas cuidando de tudo. É seguido por um exército de deuses e daemons (espíritos) dispostos em onze seções. Somente Héstia (deusa olímpica do lar e do fogo doméstico) permanece na morada dos deuses.Todo o resto dos grandes 12 deuses ficam em formação na posição de comandantes tendo um posto destinado no “exército”. Há muitas vistas abençoadas e muitos caminhos aqui e ali no céu pelos quais a raça afortunada dos deuses transita cumprindo suas próprias obrigações, enquanto quem o quer e tem capacidade para isso o segue, pois não há lugar para malevolência no coro dos deuses.” Sócrates segue explicando que os deuses seguem para além do topo dos céus, na parte externa, pois seus cavalos são todos mais puros e suas asas os elevam para o alto muito distante de onde a maioria dos seres humanos conseguem alcançar. Assim, os vários seres humanos (as almas destes) que conseguem acompanhar melhor um deus e que se assemelha maximamente a ele, ergue a cabeça de seu auriga para a região exterior e é arrebatada pelo movimento circular (dos deuses, “além do céu”), mas perturbada pelos cavalos, contempla precariamente a realidade (em grego: “onta”, que significa O ser, o que realmente é, não o que é captado pelos sentidos). 

Porém os que sucumbiram aos seus respectivos cavalos mais brutos/ impuros, se amontoam tentando subir aos céus sem sucesso, pisoteando uns aos outros e caindo na Terra."

Em outros trechos, Platão mostra como Sócrates explica a ligação dos deuses, da justiça e as outras virtudes com a visão: 

(…) "A justiça e o autocontrole não irradiam luz por meio de suas imagens aqui (na Terra), nem o fazem os demais objetos pelos quais tem apreço a alma. Somente uns poucos indivíduos, se aproximando das imagens por meio dos imprecisos órgãos dos sentidos, com dificuldade nelas entreveem a natureza daquilo que imitam. Naquela ocasião anterior, contudo, eles viram a beleza fulgurante, quando junto aos abençoados, seguindo nós (possivelmente os filósofos) no coro de Zeus”.

(…) "A Beleza, como eu disse antes, resplandecia entre aquelas aparições, e desde que descemos aqui (encarnamos na Terra) vemo-la irradiando através do mais claro de nossos sentidos; de fato, a visão é o mais agudo dos sentidos corpóreos, ainda que a sabedoria (phrónesis) não seja vista através dela”... A pessoa que foi “iniciada” (o amante da sabedoria / o filósofo que utiliza sua memória corretamente), ao ver a verdadeira beleza, a reverência, não querendo mais se separar dela. Este seria o amor, cujo os deuses chamam de “o alado”. 

Mais do que mera figura de linguagem, nota-se que pelos temas abordados neste diálogo, a luz, ou fulgor das virtudes como a justiça, percebida entre "os abençoados" e/ ou no "hiper-ouranos" relaciona-se com as visões extáticas e com casos de "experiência de quase morte", onde os indivíduos tipicamente alegam ver seres envoltos por luz, seres de luz ou simplesmente alegam ver uma luz (além da escuridão, ou após a escuridão etc).

Depois de discursar sobre a alma, Sócrates diz que é necessário analisar as palavras proferidas pelos sábios (ou, talvez, por aqueles tidos como sábios). De certo modo, foi o que ele fez após ser inspirado pelas ninfas no início do diálogo: reconsiderou o discurso feito sob a suposta inspiração de tais daemons ou espíritos e passou a emitir uma opinião orientada ou inspirada por seu "daemon guardião" (algum tipo de espírito guia ou anjo da guarda de Sócrates).

Sobre a amizade, tema já abordado no diálogo com Lisis (por quem Fedro tinha admiração) Sócrates diz: "Os amigos têm tudo em comum."

Após isso, Sócrates mostra que é possível causar estrago/ propagar o mal através da ignorância, mas que é ainda mais perigoso fazer tais coisas com conhecimento. 

A partir deste diálogo é possível entender que o que é realmente belo, é o bem, os deuses, que são virtuosos e seu “mundo” ou “reino”: o "além céus". Assim, praticar o bem e ser psiquicamente virtuoso (mentalmente e espiritualmente), é ser belo.

No final do diálogo, antes de deixar os campos e voltar à cidade de Atenas, Sócrates faz uma oração que mostra sua espiritualidade indissociável da filosofia registrada por Platão: "Oh querido Pan e todos os outros deuses deste lugar, que me concedas ser bonito por dentro. Que todos os meus bens externos estejam em amistosa harmonia com o que tenho dentro. Posso considerar o homem sábio, rico. Quanto ao ouro, deixe-me ter tanto quanto um homem moderado possa suportar e carregar com ele."

 

 

Observações sobre O Banquete (ou, O Simpósio)

O Banquete retrata o mestre de Platão, Sócrates, em uma reunião com pessoas de alguma influência, ou de algum poder em Atenas durante o século 4 a.C. (supostamente ocorrida por volta do ano 416 a.C.). Apesar do nome da obra, só há menção à refeição no início do texto, antes do diálogo de fato, o que faz dela uma reunião mais próxima de um "Simpósio". Devido ao tema central, o texto ou "diálogo", poderia muito bem se chamar "Do Amor".

Sócrates está em uma reunião, onde os participantes discursam sobre o amor (até então, predominantemente sobre Eros, a paixão e/ou o amor sensual). Quando chega sua vez de discursar, Sócrates alerta os demais participantes que não louvará nem elogiará Eros

O filósofo pergunta à Agathon, um dos participantes da reunião, se Eros é desejo de algum objeto ou de nenhum, ao que o indagado responde que deve ser o desejo de algum objeto. A seguir Sócrates questiona se é possível desejar algo que já se tem, ao que Agathon responde que não. Ambos então concluem que se "Eros deseja o belo e o bom", ele não é belo nem bom. A partir deste ponto, Sócrates conta sobre o que aprendeu com uma mulher da cidade de Mantineia (Arcádia), chamada Diotima: 

[202] Sócrates teria perguntado à estrangeira se o "Amor" (Eros, a paixão) era feio e mau, ao que a mulher responde que não, pois há coisas entre o belo e o feio, que não são nem uma coisa nem outra. Diotima dá o exemplo da opinião, que, por poder ser certa sobre um assunto, é superior à ignorância e inferior ao conhecimento (froneseos). 

Alguns textos em português (como o utilizado de base aqui), traduzem "eros" como "amor", seja com a inicial maiúscula ou minúscula. A tradução de "eros" como "amor" não está errada, mas é menos precisa nas partes iniciais do texto. Isto porque, é notável no texto que às vezes os personagens referem-se a Eros de modo personificado e outras vezes como uma força ou impulso que afeta os seres humanos. São maneiras diferentes de se falar sobre o mesmo tema, afinal Sócrates e Platão, de certo modo, fizeram uma transição entre os mitos da Grécia clássica e a filosofia/ ciência, ou ao menos, fizeram um diálogo entre os dois temas. Porém, no decorrer deste diálogo, o protagonista, Sócrates, não se limita de falar sobre Eros/ a paixão sensual e passa a abordar a filia (amizade) e, de certo modo, a ágape (amor a todas as almas, ao bem), como será mostrado mais adiante.

(...) "Que seria então a paixão (Eros)? - perguntei-lhe. - Um mortal? 

- Absolutamente (não). 

- Mas o quê, ao certo, ó Diotima? 

- Como nos casos anteriores; algo entre mortal e imortal - disse-me ela. 

- O quê, então, ó Diotima? 

- Um grande gênio (mega daimon), ó Sócrates; e com efeito, tudo o que é "gênio" (daimon) está entre um deus e um mortal. 

- E com que poder? Perguntei-lhe. 

- O de interpretar e transmitir aos deuses (theoís) o que vem dos homens, e aos homens o que vem dos deuses (theón), de uns as súplicas e os sacrifícios, e dos outros as ordens e as recompensas pelos sacrifícios; e como está no meio de ambos ele os completa, de modo que o todo fica ligado todo ele a si mesmo. Por seu intermédio é que procede não só toda arte divinatória (mantiki, que em português é "mancia", por exemplo: necromancia ou cartomancia), como também a dos sacerdotes que se ocupam dos sacrifícios, das iniciações e dos encantamentos, e enfim de toda adivinhação e magia. Um deus com um homem não se mistura, mas é através desse ser que se faz todo o convívio e diálogo dos deuses com os homens, tanto quando despertos como quando dormindo; e aquele que em tais questões é sábio é um homem de gênio, enquanto o sábio em qualquer outra coisa, arte ou ofício, é um artesão. E esses gênios, é certo, são muitos e diversos, e um deles é justamente o Eros. 

Embora se refira a um ser espiritual ou espírito da cultura árabe, "gênio" (de jin, ou djin), é uma das traduções aceitas para a palavra grega daímon/ daemon. Outra tradução aceitável seria espírito, embora esta possa ser considerada ambígua ou relativa. Apesar da semelhança com a palavra "demônio", daemon não é sinônimo desta, devido ao significado empregado pela igreja à palavra demônio (de "ser eternamente mau"). O termo "anjo", significando mensageiro, poderia ser uma tradução razoável da palavra daemon utilizada no texto O Banquete, tanto é que a palavra evangelho, que significa boa nova/ boa mensagem, é oriunda da união dos termos eva e angelos. Porém anjo também tornou-se inadequado para expressar daemon, já que as igrejas cristãs, propagaram a palavra anjo para definir seres eternamente bons.

Sócrates diz: - Mas é por isso mesmo, Diotima - como há pouco eu te dizia - que vim a ti, porque reconheci que precisava de mestres. Dize-me então não só a causa disso, como de tudo o mais que concerne ao amor (eros). 

Diotima continuou: Se de fato crês que "o amor" é por natureza amor daquilo que muitas vezes admitimos, não fiques admirado. Pois aqui, segundo o mesmo argumento que lá, a natureza mortal procura, na medida do possível, ser sempre e ficar imortal. E ela só pode assim, através da geração, porque sempre deixa um outro ser novo em lugar do velho; pois é nisso que se diz que cada espécie animal vive e é a mesma - assim como de criança o homem se diz o mesmo até se tornar velho; este na verdade, apesar de jamais ter em si as mesmas coisas, diz-se todavia que é o mesmo, embora sempre se renovando e perdendo alguma coisa, nos cabelos, nas carnes, nos ossos, no sangue e em todo o corpo. E não é que é só no corpo, mas também na alma os modos, os costumes, as opiniões, desejos, prazeres, aflições, temores, cada um desses afetos jamais permanece o mesmo em cada um de nós, mas uns nascem, outros morrem. 

[208] Porém ainda mais estranho do que isso é que até as ciências não é só que umas nascem e outras morrem para nós, e jamais somos os mesmos nas ciências (episteme, ou conhecimento), mas ainda cada uma delas sofre a mesma contingência. 

O que, com efeito, se chama exercitar é como se de nós estivesse saindo a ciência; esquecimento é escape de ciência, e o exercício, introduzindo uma nova lembrança em lugar da que está saindo, salva a ciência, de modo a parecer ela ser a mesma. É desse modo que tudo o que é mortal se conserva, E não pelo fato de absolutamente ser sempre o mesmo, como o que é divino, mas pelo fato de deixar o que parte e envelhece um outro ser novo, tal qual ele mesmo era. 

É por esse meio, ó Sócrates, que o mortal participa da imortalidade, no corpo como em tudo mais o imortal porém é de outro modo. Não te admires portanto de que o seu próprio rebento, todo ser por natureza o aprecie: é em virtude da imortalidade que a todo ser esse zelo e esse amor acompanham."

Assim, na Terra, Platão indica que eros se renova com a geração de filhos. O desejo de sobrevivência de uma espécie na Terra teria um teor erótico neste sentido. A única maneira de um corpo alcançar a "imortalidade terrestre", é gerando crias/ filhos. Interessante notar que no caso dos animais, o desejo de garantir a sobrevivência das espécies após a geração de filhotes se manifesta pela proteção e providência da mãe (ou de ambos progenitores/ pais em alguns casos). Isto também naturalmente ocorre no ser humano, embora o desejo materno de garantir a vida dos filhos neste caso, possa evoluir para as outras formas mais sublimes de amor que Platão abordará em seu texto, isto porque a mãe tendo sentimentos, pode (por exemplo) continuar gostando de seus filhos mesmo após estes crescerem e seguirem sua própria vida mais afastados da maternidade.

Diotima continua dizendo que os humanos buscam a imortalidade através de seus feitos (pela glória, fama, memória etc) e muitos procuram sendo amorosos na procriação. Estes últimos poderão ser lembrados pelos seus filhos e talvez por outros sucessores como netos etc. 

O diálogo com Sócrates continua: 

- E por que assim da geração? 

Porque é algo de perpétuo e mortal para um mortal, a geração. E é a imortalidade que, com o bem, necessariamente se deseja, pelo que foi admitido, se é que o amor é amor de sempre ter consigo o bem. É de fato forçoso por esse argumento que também da imortalidade seja o amor. Tudo isso ela me ensinava, quando sobre as questões de amor discorria, e uma vez ela me perguntou: - Que pensas, ó Sócrates, ser o motivo desse amor e desse desejo? Porventura não percebes como é estranho o comportamento de todos os animais quando desejam gerar, tanto dos que andam quanto dos que voam, adoecendo todos em sua disposição amorosa, primeiro no que concerne à união de um com o outro, depois no que diz respeito à criação do que nasceu? E como em vista disso estão prontos para lutar os mais fracos contra os mais fortes, E mesmo morrer, não só se torturando pela fome a fim de alimentá-los como tudo o mais fazendo? Ora, os homens, continuou ela, poder-se-ia pensar que é pelo raciocínio que eles agem assim; mas os animais, qual a causa desse seu comportamento amoroso? Podes dizer-me? 

“O que corretamente se encaminha a esse fim, deve com efeito começar quando jovem por dirigir-se aos belos corpos, e em primeiro lugar, se o seu dirigente (Eros) corretamente o dirige, deve ele amar um só corpo e então gerar belos discursos; depois deve ele compreender que a beleza em qualquer corpo é irmã da que está em qualquer outro, e que, se se deve procurar o belo na forma, muita tolice seria não considerar uma só e a mesma a beleza em todos os corpos; e depois de entender isso, deve ele fazer-se amante de todos os belos corpos e largar esse amor violento de um só, após desprezá-lo e considerá-lo mesquinho; 

Neste ponto já é possível entender o amor violento como sendo Eros, a paixão intensa que geralmente tem curta duração e certamente é semelhante ou igual ao amor erótico / sensual. Deve-se abandoná-lo após entender que há beleza em outros corpos também, além do qual nos apaixonamos. 

Depois disso ele deve considerar a beleza que está nas almas mais preciosa que a do corpo, de modo que, mesmo se alguém de uma alma gentil tenha todavia um escasso encanto, contente-se ele, ame e se interesse, e produza e procure discursos tais que tornem melhores os jovens; para que então seja obrigado a contemplar o belo nos ofícios e nas leis, e a ver assim que todo ele tem um parentesco comum, e julgue enfim de pouca importância o belo no corpo; 

Após tornar-se “amante” (apaixonado) por todos os corpos, o autor indica que deve-se abandonar esta postura, pois pelo fato de envolver o interesse no prazer sexual, este “amor” violento tende a ser mesquinho. A partir daí, é importante passar a amar as almas (psiquê, certamente engloba o conceito de mente) e então, os trabalhos e leis. Importante notar que, ao priorizar a beleza das almas, nos ofícios e nas leis, possivelmente já não se trata mais de Eros e sim de Filia, ou seja, amizade. 

Depois dos ofícios é para as ciências que é preciso transportá-lo, a fim de que veja também a beleza das ciências, e olhando para o belo já muito, sem mais amar como um doméstico a beleza individual de um criançola, de um homem ou de um só costume, não seja ele, nessa escravidão, miserável e um mesquinho discursador, mas voltado ao vasto oceano do belo e, contemplando-o, muitos discursos belos e magníficos ele produza, e reflexões, em inesgotável amor à sabedoria, até que aí robustecido e crescido contemple ele uma certa ciência, única, tal que o seu objeto é o belo seguinte.” 

É possível entender que a personagem indica o caminho para Ágape, o amor expansivo e piedoso, sem interesses particulares. É o amor pelo coletivo de almas e pelos estudos, leis e trabalhos úteis e bons para este coletivo. Aí está a verdadeira beleza acessada pela sabedoria e pela filosofia. Certamente Sócrates e Platão explicaram assim porque amar a lei sem amar as almas seria criar uma sociedade/ um estado frio, possivelmente governado por interesseiros ou por repressores. Enquanto amar só as almas pode permitir com que as pessoas não se importem com leis formando uma sociedade desigual e conturbada. O objetivo de Platão fica claro ao longo de suas obras: ao fundar a filosofia em diálogo com outros autores de seu tempo e anteriores a si, o filósofo trouxe a ética para o centro da construção de conhecimento. Por esta razão, ele regularmente aborda a virtude, a ideia do bem/ do belo, a episteme (conhecimento) etc.

[210e] Diotma continua: Aquele, pois, que até esse ponto tiver sido orientado para as coisas do amor, contemplando seguida e corretamente o que é belo (kaloy*), já chegando ao ápice dos graus do amor, súbito perceberá algo de maravilhosamente belo em sua natureza (terá a si revelado uma visão extraordinária, bela em sua natureza); Aquilo mesmo, ó Sócrates, a que tendiam todas as penas anteriores, primeiramente sempre sendo, sem nascer nem perecer, sem crescer nem decrescer, e depois, não de um jeito belo e de outro feio, nem ora sim ora não, nem quanto a isso belo e quanto àquilo feio, nem aqui belo ali feio, como se a uns fosse belo e a outros feio; nem por outro lado aparecer-lhe-á o belo como um rosto ou mãos, nem como nada que o corpo tem consigo, nem como algum discurso ou alguma ciência, nem certamente como a existir em algo mais, como, por exemplo, em animal da terra ou do céu, ou em qualquer outra coisa; ao contrário, aparecer-lhe-á ele mesmo, por si mesmo, consigo mesmo, sendo sempre uniforme, enquanto tudo mais que é belo dele participa, de um modo tal que, enquanto nasce e perece tudo mais que é belo, em nada ele fica maior ou menor, nem nada sofre. Quando então alguém, subindo a partir do que aqui é belo, através do correto amor aos jovens, começa a contemplar aquele belo, quase que estaria a atingir o ponto final. Eis, com efeito, em que consiste o proceder corretamente nos caminhos do amor ou por outro se deixar conduzir: em começar do que aqui é belo e, em vista daquele belo, subir sempre, como que servindo-se de degraus, de um só para dois e de dois para todos os belos corpos, e dos belos corpos para os belos ofícios, e dos ofícios para as belas ciências até que das ciências acabe naquela ciência, que de nada mais é senão daquele próprio belo, e conheça enfim o que em si é belo. Nesse ponto da vida, meu caro Sócrates, continuou a estrangeira de Mantinéia, se é que em outro mais, poderia o homem viver, a contemplar o próprio belo. 

*Kaloy, a beleza mais do que física, pois é moral também; Relaciona-se com a ideia central dos textos de Platão: kalos - o bem/ belo.

Que pensamos então que aconteceria, disse ela, se a alguém ocorresse contemplar o próprio belo, nítido, puro, simples, e não repleto de carnes, humanas, de cores e outras muitas ninharias mortais, mas o próprio divino belo pudesse ele em sua forma única contemplar? Porventura pensas, disse, que é vida vã a de um homem a olhar naquela direção e aquele objeto, com aquilo com que deve, quando o contempla e com ele convive? Ou não consideras, disse ela, que somente então, quando vir o belo com aquilo com que este pode ser visto, ocorrer-lhe-á produzir não sombras de virtude, porque não é em sombra que estará tocando, mas reais virtudes, porque é no real que estará tocando? 

Após Sócrates contar aos seus ouvintes sobre seu aprendizado, Alcibíades entra bêbado no salão e incita os participantes do simpósio a beberem. Erixímaco explica que eles estavam discursando sobre Eros, então Alcibíades responde que não está em condições de realizar tal feito, mas que pode falar sobre Sócrates. O filósofo então pergunta qual a intenção de tal discurso, ao que Alcibíades responde que falará somente a verdade.

Alcibíades então conta, com certa decepção, sobre os diálogos e a sabedoria de Sócrates, comparando-o com seres míticos (Silenos, sirenes e sátiros) capazes de enfeitiçar seus ouvintes. O jovem alega que Sócrates cerca-se de jovens belos, mas que não mostra interesse por coisa alguma - não é atraído por dinheiro nem honra. Alcibíades, a seguir, conta sobre seu histórico de fracassadas tentativas de conquistar Sócrates, cuja última tentativa termina no seguinte diálogo:

"E este homem, depois de ouvir-me, com a perfeita ironia que é bem sua e do seu hábito, retrucou-me: 

- Caro Alcibíades, é bem provável que realmente não sejas um vulgar, se chega a ser verdade a que dizes a meu respeito, e se há em mim algum poder pelo qual tu te poderias tornar melhor; sim, uma irresistível beleza verias em mim, e totalmente diferente da formosura que há em ti. Se então, ao contemplá-la, tentas compartilhá-la comigo e trocar "beleza por beleza", não é em pouco que pensas me levar vantagens, mas ao contrário, em lugar da aparência é a realidade do que é belo que tentas adquirir, e realmente é “ouro por cobre” que pensas trocar. No entanto, ditoso amigo, examina melhor; não te passe despercebido que nada sou. Em verdade, a visão do pensamento começa a enxergar com agudeza quando a dos olhos tende a perder sua força; tu porém estás ainda longe disso.” 

A partir do texto "O Banquete", é possível entender que o amor é o que desperta para o verdadeiro saber, isto é complementado/ reforçado no diálogo "Fedro".

 

 

Breves observações sobre Lísis (Da Amizade)

Lísis é tido como um texto da fase inicial de Platão, quando Sócrates ainda era vivo. 

Ao iniciar um diálogo com Sócrates, Hipotalés acaba mostrando que está apaixonado por Lisis. Sócrates recomenda ao jovem para que não encha Lisis de elogios, pois isto deve incitar a vaidade no alvo de sua paixão. A pessoa tomada por vaidade dificilmente cede às investidas do apaixonado. Após esta recomendação, ambos vão de encontro a Lisis e Menexeno e Sócrates começa a puxar conversa com os dois. Sócrates diz então que não deve perguntar quais dos dois é mais rico, pois tudo é comum entre os amigos verdadeiros. Ambos concordam, mas Menexeno sai brevemente de cena. O filósofo então, segue perguntando à Lisis sobre seu relacionamento com pais e professores e sobre o que ele pode fazer e o que ele não pode. Ambos concluem que Lisis só pode fazer o que os outros determinam ou permitem que ele faça. Os relacionamentos de Lisis então, parecem regidos por interesses e não por amor, mas enquanto Lisis tiver um mestre (e ele tem vários: os pais e os professores) seu entendimento será insuficientemente capacitado. Assim Sócrates mostra à Hipotalés, que não deve-se bajular a pessoa por quem se tem interesse ou por quem se está apaixonado. 

Após Menexeno voltar à cena, Lisis pede para que Sócrates explique sobre o que conversaram. Ao invés disso, Sócrates diz que muitas pessoas desejam possuir alguma coisa (bens materiais, status), mas ele não quer nada disso. Ele diz que deseja amizade (filia), mostrando-se interessado pela amizade com certa admiração e questiona seus interlocutores sobre o assunto. 

Sócrates conduz a conversa propondo alguns tipos de amizades: 

 Amizade entre pessoas semelhantes, possivelmente entre homens de bem. 

Amizade entre homens que são diferentes, possivelmente devido a interesses. 

Amizade entre homens que não são nem bons nem maus e homens bons. 

De todas essas opções, Sócrates pensa que a única possibilidade lógica é a amizade entre homens bons e homens que não são nem bons nem maus. No final, Sócrates parece descartar todas essas ideias como erradas, embora suas refutações tenham fortes indícios de ironia sobre elas.

 

Observações sobre Timeu; Parte 2

Continuo aqui as observações sobre a obra Timaeus ( Timeu ); (48) O astrólogo Timeu então diz que este universo ordenado (em que vivemos) na...