Além disto, minhas dificuldades psicoemocionais/ espirituais destes últimos anos serviram para eu buscar o sentido de minha vida. Sentido este que estava completamente encoberto por minhas contradições, medos e até por algumas mesquinharias que eu tinha. O sentido de vida então não pode ser algo fugaz nem meramente material como juntar dinheiro, bens ou experimentar prazeres sensoriais - Trata-se de algo existencial que envolve manifestações psíquicas mais duradouras do que emoções: algo como bom sentimento; Às vezes é difícil, ao menos eu acho difícil lidar com a mediunidade e com os sentimentos que nem sempre são bons, pois ainda tenho que lidar com os sentimentos ruins; Apesar das dificuldades devo viver, pois sentido de vida não é meramente um objetivo ou um rumo; trata-se de ser, trata-se de viver genuinamente o presente... com esperança.
Psiquê, sentido de vida e mediunidade
Observações sobre a Apologia de Sócrates e sobre Sócrates e Platão
Platão e o "Estrangeiro"
A definição de um ser imutável e uno parecia exclusividade da escola de Eleia entre as polis gregas, até Platão construir a filosofia ocidental apoiando-se no ombro destes e de outros filósofos. Platão relaciona tal definição com o divino e com o "Theos", seja ele o Demiurgo (arquiteto), Nous (a mente divina), Zeus ou Apolo (esse último considero mais improvável). Poderiam os filósofos da escola de Eleia, ou mesmo Platão, terem sido influenciados pela ideia hindu de um todo, ou Brahman onipresente em algum nível?
Sei que existem discussões e divergências entre filósofos e historiadores que debatem se Platão e outros filósofos da Grécia antiga/ clássica foram autores originais (de trabalhos puramente helênicos) ou se partiram de obras estrangeiras, sejam egípcias, "babilônicas", persas ou mesmo hindus. Historiadores recentes como Francis A. Yates ressaltam a influência sincrética e possivelmente hermética (greco-egípica-judaica) sobre os seguidores de Platão, particularmente do médio platonismo dos séculos 1 e 2, enquanto estudiosos dos últimos 4 séculos do Império Romano, como Eusébio de Cesaréia, chegaram a afirmar que Platão obteve conhecimento dos povos hebraicos ou foi inspirado por Deus. (não que Eusébio aceitasse todo o corpo da obra platônica: ele aceitou só o que interpretou como convergente com textos hebraicos)
Também sei que há aqueles que duvidam da historicidade de Sócrates e também os que menosprezam a ética "socrática/ platônica". Há outros que afirmam que Platão escondeu alguns ensinamentos orais e que Aristóteles teria revelado tais ensinamentos ou completado sua obra... Enfim, há uma série de interpretações e opiniões sobre o corpo da obra de Platão.
Sobre a originalidade grega ou suas possíveis referências, particularmente desprezo as visões unilaterais que afirmam que a filosofia helênica é pura e intocada por outras culturas, assim como discordo que sejam puramente adaptações de povos "vizinhos" mais antigos.
Sobre Aristóteles continuar ou completar a obra de Platão, eu ainda tenho dúvidas. É verdade que ainda não li as obras aristotélicas, mas as poucas sínteses e observações sobre o autor indicam que ele contrariou seus antecessores (ou mestres) em alguns pontos-chave da filosofia "socrática"/ platônica. Aristóteles também afirma que Platão dá um ensinamento oral diferente do que ele mostra em Timeu, sobre a relação entre o Uno e o bem. Pode ser que Platão reservou palestras ou conhecimentos sobre o bem, devido ao fato destes argumentos possivelmente serem muito rechaçados em sua época, mas creio que terei uma opinião mais embasada sobre isso após ler Timeu e a 7ª carta de Platão.
Então faço a pergunta se o "estrangeiro" realmente não foi um conhecido de Platão influenciado por hindus, mas sei que é mais por curiosidade, pois considero pouco ou nada relevante a nacionalidade das pessoas.
Observações sobre "Sofista" (Do Ser) Pt. 2
Observações sobre Teeteto (Do Conhecimento) Pt. 2
Na parte tratada anteriormente, Teeteto e Teodoro, que acreditavam que o conhecimento era essencialmente sensorial, encontram Sócrates. Sócrates, Teeteto e Teodoro discutem então a teoria de Protágoras que afirmava que o "homem é a medida de todas as coisas", teoria esta que tinha similaridades à de Heráclito (de que tudo está em constante movimento). Sócrates refuta vários pontos desta(s) teoria(s), indicando a necessidade e a existência do repouso, da unidade, da totalidade, a insuficiência do uso exclusivo dos sentidos na construção do conhecimento etc. Também indicando que a verdade não é particular de cada ser humano, e a necessidade da busca de uma justiça universal, esta que por sua vez, não só faria bem ao estado e todos seus componentes/ integrantes, como também indicaria a existência de uma realidade divina ou de um "Theo" (possivelmente o Demiurgo, ou talvez Nous).
Após isso, para definir o conhecimento, Sócrates tenta utilizar comparações com linguagem figurada: por exemplo, a psiquê como cera de vela moldável para aprender, entender e guardar o conhecimento, depois a comparação da mesma com uma gaiola onde se prendem pássaros como se fossem conhecimentos etc.
Insatisfeito com os resultados, Sócrates continua sua investigação junto a Teeteto. Teeteto então diz que ouviu uma explicação de que o conhecimento é a opinião verdadeira associada ao discurso racional. Sócrates, por sua vez, diz que costumava ouvir (ou sonhar com) certas pessoas sustentarem que os elementos primordiais dos quais tudo e todos são compostos não admitem qualquer explicação racional. Cada um desses elementos é passível apenas de ser nomeado, não sendo possível nada mais dizer dele, ou que ele é ou não, uma vez que isso seria adicionar-lhe existência ou não existência. Na verdade nenhum termo que implica multiplicidade devem ser adicionado a tais elementos primordiais (como "essa", "cada um" etc) porque tais termos se distinguem das coisas às quais são adicionados. Enfim, tais elementos não podem ser explicados racionalmente e só podem ser nomeados. Porém as coisas compostas por esses elementos são complexas, o que transmite complexidade aos seus nomes, que por sua vez formam uma explicação racional. Assim, a associação dos nomes é a essência do discurso racional.
A partir daí, Sócrates conclui que quando alguém atinge a opinião verdadeira sobre alguma coisa dissociada do discurso racional, sua psiquê/ alma passa a deter a verdade no tocante a essa coisa, mas não detém conhecimento. Aquele que é incapaz de fornecer e receber uma explicação racional de algo, carece de conhecimento dele.
Para explicar o elemento primordial, Sócrates o compara com as letras: As letras formam sílabas pronunciáveis portanto explicáveis; porém a letra em si, é o símbolo que representa uma vogal ou consoante que por ela mesma não apresenta explicação racional, referindo-se ao som puro.
A seguir Teeteto e Sócrates investigam a soma, os números que a compõem e o resultado da soma; tais números seriam as partes da soma, mas a soma em si, é a combinação destas partes. Eles começam utilizando os termos "pan" para soma e "holon" para o todo, este último é o total numa forma autônoma. Apesar desta distinção inicial, eles concluem que a soma (de quaisquer números/ quantidade) é sinônimo de todo, ou seja, a soma é um resultado que forma algo completo autônomo, independente. Com tal explicação, esta soma/ todo não seria divisível, pois teria formado algo autônomo, novo etc.
Esta investigação e suas explicações são bastante incomuns e possivelmente complexas. Apesar de soar estranho alegar que a soma/ todo não é divisível, tal explicação serve para alguns casos ou objetos de estudo da ciência: Um possível exemplo seria um corpo de um ser vivo, seja animal, planta ou qualquer outro é constituído de células, que por sua vez são constituídas de moléculas, que por sua vez são constituídas de átomos e por aí vai. A partir destas observações, imaginemos uma planta toda dividida nestas partes microscópicas. Se juntarmos essas partes microscópicas, será possível reconstruir a planta exatamente como era antes de sua divisão? Apesar de não ser botânico nem físico, eu arrisco afirmar que não seria possível. Talvez com algum desenvolvimento científico/ tecnológico gigantesco e/ ou maior do que temos neste início de século 21. Mas voltando à explicação do todo autônomo e suas partes, creio que foi mais ou menos o que exemplifiquei que Platão tentou explicar.
Parece que tal estudo não tem implicação científica, mas em alguma construção de conhecimento importante eu sei que tem: Na psicologia, seja ela ciência ou filosofia. Foi por causa de discussões (não iguais, mas) semelhantes a esta, que surgiu a frente fenomenológica da psicologia. Foi uma necessidade para além da psicologia experimental, da psicanálise e do behaviorismo que apesar de terem suas respectivas utilidades, apresentaram visões deterministas do ser humano, e, em algum caso até reducionistas pelo fato de se apoiarem no materialismo e/ ou no biologismo. Abordagens da frente fenomenológica da psicologia, trabalham conceitos como a totalidade do paciente, buscam respeitar relatos do paciente, independentemente de cosmovisões e pressupostos, considerando-os como possibilidades para o tratamento e, portanto, para a construção de conhecimento humano também.
Continuando o diálogo, Sócrates diz: (...) "declararemos que os elementos, enquanto uma classe, são muito mais claramente conhecidos do que compostos e que oferecem um conhecimento muito mais importante para a completa consecução e domínio de cada ramo de estudo. E se alguém afirmar que o composto, por sua natureza, é cognoscível ao passo que o elemento é incognoscível, consideraremos que tal pessoa está, intencional ou não-intencionalmente, gracejando."
Apesar de aparentar algum avanço no estudo sobre o que é conhecimento, Sócrates em seguida questiona a definição encontrada, pois uma suposta indivisibilidade no exemplo da formação dos nomes/ palavras poderia ser encontrada tanto na sílaba (por se tornar o "todo autônomo") como na letra singularmente que é naturalmente indivisível. O conhecimento também não poderia ser somente ter uma opinião verdadeira sobre uma experiência em particular e explicá-la racionalmente, nem apresentar uma explicação meramente das partes de um todo. Com esse e alguns outros questionamentos, Sócrates, não chega a um resultado definitivo sobre o que é conhecimento, dizendo à Teeteto:
"Se depois dessa experiência, no futuro tentar conceber outros pensamentos, Teeteto, e realmente os conceba, estarás grávido de melhores pensamentos do que esses por causa da presente investigação; E se permaneceres estéril, te mostrará menos duro e mais afável com teus companheiros, pois estarás munido da sabedoria de não pensar que sabes aquilo que não sabes."
O filósofo conclui que não sabe o que os "grandes homens" do presente e do passado conhecem e que sua arte é capaz de realizar o efeito que gerou em Teeteto: enquanto a mãe de Sócrates tratava das mulheres com a "arte de parir" (crianças), ele tratava dos jovens que exibem beleza (certamente "kalos", a beleza mais que física - psíquica e moral).(*)
O diálogo termina com Sócrates se retirando para responder formalmente seu acusador, Meleto.
(*)Tratar dos jovens seria a educação ética proposta por Platão e em grande parte baseada na maiêutica de Sócrates.
Platão traça algumas observações sobre o conhecimento, mas não dá uma resposta definitiva sobre o que é o conhecimento (episteme) em si. Isto pode ser decepcionante em algum nível para quem esperava uma conclusão, porém na obra Sofista, que é praticamente a sequência deste diálogo, ele toca no assunto novamente, mas com uma ênfase no ser/ existir. Na obra seguinte então, fica claro que Platão tem uma preocupação mais psíquica e moral/ ética do que simplesmente definir o que é conhecimento sem tratar da psiquê humana e tratar sobre a existência.
Platão não poderia ficar meramente preso à opinião humana, nem à relatividade da realidade observável sensorialmente, pois buscou se pautar nas excelências ou virtudes - os valores universais, ou em termos mais utilizados atualmente, na ética.
Observações sobre Timeu; Parte 2
Continuo aqui as observações sobre a obra Timaeus ( Timeu ); (48) O astrólogo Timeu então diz que este universo ordenado (em que vivemos) na...
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Livro VII Esta parte da obra começa com a famosa alegoria da caverna de Platão: [514 a-c] Sócrates — Agora mostro a maneira como segue o e...
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